segunda-feira, 22 de março de 2021

Uma palinha de exortação, por Gustavo Ribeiro




Aí pessoal...

Deixa perguntar:


O que você vê da sua janela?

O que da sua janela você vê?


Vê a rua, a lua. Vê o dia, neon, o mar?

Vê muros, paredes, grafites? Vê outras janelas?

Vê carros, pessoas... a pressa delas?

Vê labirintos, canteiros, becos, vielas?


Da minha janela vejo nuvens, o céu azul.

Árvores, folhas, o verde.

Vejo ninhos, o voo dos passarinhos.

Vejo o norte, vejo o sul.

Vejo desconhecidos, amigos, pessoas, vizinhos.


Das nossas janelas vemos vida, e o sentido dela.

Vemos além. Vemos por dentro, por fora.


Há janela de condomínio.

Janela de bacana.

Janela de vidro temperado.

Há fresta estreita na janela da choupana.

De onde não se pode espiar o outro lado.


Há janelas no alto imponentes. Item de decoração.

Embaixo, no chão, improviso entre telhado de zinco, piso de terra batida.

Buraco na parede de papelão.


O que cabe na nossa janela?

O que cabe na nossa moldura?

Cabe empatia, sensibilidade, caridade?

Cabe um espelho que possa refletir o interior, descobrir o que somos de verdade?


Uma janela que se abre,

por onde se enxerga através,

pode ser o momento,

a oportunidade,

da busca do rumo, do prumo, do caminho sem viés.


Bora refletir:


O que entra pela sua janela ilumina o canto da sala.

E o que sai por ela, o que ilumina?


A matéria, o desejo de ter?

Ou o espírito, coração, a pureza da alma, a grandeza do ser?


Pela minha janela vejo os meus, os nossos, os seus.

Pela minha janela vejo o que sou, o que creio e pra onde vou.

Da minha janela eu vejo a luz, eu vejo Deus.



Gustavo Ribeiro é Comentarista da Rádio Cariri 101.1 FM e um entusiasta por Campina Grande.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Ódio e Nojo


Enquanto milhões de brasileiros e brasileiras choram por seus mortos - familiares, amigos, colegas de trabalho, companheiros de luta, conhecidos, vizinhos e até adversários ("na morte a gente esquece", como diz o Chico) - ou que simplesmente se enternecem por empatia ao próximo;

No momento em que centenas de milhares de cidadãs e cidadãos agonizam nas UTIs lotadas, padecem em enfermarias e corredores de hospitais, se desesperam em filas infindáveis aguardando por um leito para sobreviver, falecem em ambulâncias ou esperando por socorro, morrem sufocadas em casa, num barraco, embaixo de um viaduto, na rua;

Ao mesmo tempo em que milhares de trabalhadoras e trabalhadores da Saúde arriscam as suas vidas na agoniante faina diária de uma guerra inglória em que não medem esforços para honrar o mandado de Hipócrates; no instante mesmo em que esses abnegados heróis e heroínas se extenuam, se deprimem, temem infectar a família, são infectados, adoecem, agonizam e morrem;

Na semana em que ficamos sabendo que os medicamentos necessários para a intubação dos pacientes em estado grave estão acabando nos hospitais - ao que não se atentou o néscio ex-ministro-general, mesmo escaldado pela tragédia do oxigênio em Manaus - e que as farmacêuticas nacionais informam ao novo ministro da Saúde - outro pau-mandado - que não têm capacidade de produzi-los a tempo para suprir os estoques;

No dia em que o Brasil vacinou pouco mais de 300 mil pessoas, se mantendo junto aos países com os menores índices de imunização per capita do mundo, quando poderíamos estar entre os primeiros, pois o SUS, o maior sistema público de atenção à saúde do planeta, tem condições de vacinar 2 milhões de pessoas por dia no país;

No mesmo dia em que 2.724 brasileiros e brasileiras morreram de Covid-19 e em que foram computados 86.982 novos casos, dois macabros recordes mundiais;

O pústula que ocupa a Presidência da República, o sujeito que ama a pandemia, o negacionista que desdenhou das vacinas quando o mundo inteiro corria atrás delas, o sádico que se omite, desinforma, sabota, transfere responsabilidade, age com desídia, indiferença e chacota frente à maior tragédia sanitária da nossa história, teve o desplante de remedar asquerosamente uma pessoa se sufocando em sua live semanal, picadeiro online do abjeto circo de horrores que é o seu governo, enquanto grunhia:

"Sem problema, se tu começar a sentir um negócio esquisito lá, tu segue aí a receita do ministro Mandetta: cê vai pra casa e quando você tiver [arremedo e grunhido], [repete o arremedo e o grunhido], falta de ar, aí você vai pro hospital."   (Jair Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil, 18/03/2021)

Estou tão indignado e perplexo, que me faltam palavras para concluir este post. Então, vou evocar o grande Ulisses Guimarães, parafraseando-o no que ele disse sobre a ditadura militar em seu discurso histórico de promulgação da Constituição de 1988.

Tenho ódio e nojo desse genocida que governa o Brasil e da corja que o apoia. 

#ForaBolsonaro
#ImpeachmentJá

quinta-feira, 18 de março de 2021

Nordeste: centro decisivo da eleição presidencial, por Jonas Paulo

Lula discursa em Monteiro-PB, 19/03/2017 (Foto: Ricardo Stuckert)


Historicamente, o Nordeste era a reserva estratégica de votos para a manutenção do poder das elites sudestinas e sulistas, que mantinham estreitas alianças com os coronéis oligarcas controladores dos currais eleitorais onde estavam os tristemente conhecidos votos de cabresto.

Com um forte trabalho de base do sindicalismo rural, ONGs de educação popular e Pastorais da Terra, Operária e da Juventude nos anos 80 e 90, elevou-se significativamente o nível de organização e consciência dos trabalhadores rurais e urbanos em todos os estados nordestinos.

Esse trabalho ganhou espaço nos partidos políticos de esquerda e de centro e se reproduziu na eleição de vereadores, prefeitos, parlamentares estaduais e federais. Foi avançando e começou a eleger governadores, desmontando o poder das velhas oligarquias em cada estado. O que mudou radicalmente a estrutura de poder na região, gerando lideranças de porte nacional como Marcelo Déda, Jaques Wagner, Eduardo Campos, Ricardo Coutinho e Wellington Dias.

A nova geração de poder politico no Nordeste ganha densidade com a presença do Governo Lula e com as cisões nas estruturas do poder oligárquico que passam a compor a base dos novos governos de centro-esquerda, entendendo que essas cisões já vinham se configurando desde a emergência das lideranças de Waldir Pires, Miguel Arraes, Jackson Lago e Ciro Gomes.

PT Bom de Governo

Certo é que o desenvolvimentismo ganha fôlego nos novos governos nordestinos impulsionados principalmente pelo governo federal do Presidente Lula, pois os governos estaduais replicam os mesmos valores, princípios e fundamentos da governança federal petista enfeixados numa concepção central: o Estado Democrático indutor dos investimentos públicos e parcerias privadas, regulador da economia, provedor dos serviços à cidadania e inibidor das desigualdades sociais e regionais.

E essa sintonia fina produziu uma transformação grandiosa na infraestrutura e na logística da região, na política habitacional, na diversificação da matriz energética com fontes renováveis e, ainda, no petróleo e gás. Também houve avanços na mobilidade urbana, conectividade, interiorização do ensino superior e técnico e a promoção de uma forte inclusão social com as políticas de renda e de valorização do Salário Mínimo, além das tecnologias sociais na convivência com o Semiárido e na Agricultura Familiar com a incorporação dos assentados da Reforma Agrária e quilombolas.

O resultado foi a retirada do Brasil do Mapa da Fome e o Nordeste alcançando índices de crescimento nos padrões chineses - acima de 7% ao ano - além de ser a retaguarda estratégica das eleições das candidaturas presidenciais petistas, ofertando sempre mais de 10 milhões de votos de frente sobre os adversários.

Com o golpe de estado contra o governo legítimo da Presidenta Dilma e a desestruturação das políticas de desenvolvimento e inclusão social – além de uma forte crise marcada pela restrição fiscal e orçamentária com prevalência no governo federal das teses neo e ultraliberais do Estado Mínimo – a intensidade dos investimentos públicos foi reduzida drasticamente.

Contudo, os governos estaduais continuaram se orientando pelos mesmos princípios e fundamentos de gestão democrática e popular e avançaram nas modalidades de gestão e investimentos, introduzindo as PPP e Concessões, preservando o papel indutor e regulador do Estado atraindo investimentos privados, fortalecendo as cooperativas de produção e intensificando a criação de consórcios públicos interfederativos que culminaram no Consórcio dos Governadores do Nordeste, um contraponto fundamental ao neoliberalismo federal e instrumento de gestão eficiente na integração regional e expansão das políticas públicas no território nordestino.

Na atual conjuntura, o desempenho dos governadores por meio do Consórcio Nordeste foi fundamental para a articulação interna e internacional que resultou, após autorização legislativa e da Suprema Corte, na aquisição de 39 milhões de doses da vacina Sputnik V junto ao Fundo Soberano Russo.

Sucessões Estaduais e Presidencial

O Nordeste, que foi decisivo em todos os pleitos presidenciais desde 2002, garantindo na região a maioria ampla para Lula, Dilma e Haddad, é onde o partido tem as melhoras perspectivas políticas e eleitorais para 2022, ainda mais sendo Lula o candidato. Entretanto, o quadro não é tão simples, pois teremos sete sucessões de governos já reeleitos – AL, BA, CE, MA, PE, PI e SE – e apenas duas tentativas de reeleição – PB e RN.

Como se tratam de governos de coalizão com composições que vão da esquerda à centro-direita, inclusive com a participação de partidos da base do atual governo federal, a costura das alianças para a construção do palanque presidencial é mais delicada e requer mais astúcia política e, acima de tudo, a prevalência da visão nacional sobre o cenário da disputa local.

A eleição é em dois turnos, mas a tática tem prioridade nacional e portanto os palanques presidenciais nos estados nordestinos devem ser fortes e agregadores, porque aqui está a maior força eleitoral do campo democrático-popular no País. A eleição de bancadas federais e sua ampliação é importante, mas só depende dos próprios partidos, pois não há mais coligação proporcional. Já as chapas majoritárias para os Governos e o Senado serão o lastro político da chapa presidencial.

A importância de se ocupar essas posições estratégicas está comprovada no atual momento político do País, quando, mesmo na oposição ao governo federal, os governadores fazem o contraponto, ampliam a base progressista, articulam as ações com o Consórcio Nordeste e, quando o PT esteve no governo federal, fortaleceram o projeto nacional replicando as suas políticas mais estratégicas ou estruturantes.

Já no Senado, com uma bancada representativa, dificilmente os adversários do campo democrático-popular compõem maioria qualificada, o que torna a luta mais renhida em defesa dos nossos projetos, estando nós na oposição ou no governo central.

O quadro atual é complexo e desafiador. Na Bahia, a candidatura de Jaques Wagner ao governo agrega a base atual e faz um palanque presidencial muito forte, com muitas chances de garantir as margens de vitórias dos últimos pleitos que variaram de 3 a 4 milhões de votos de frente sobre o adversário.

No Ceará, o xadrez político é mais complexo pois o PT governa o Estado em coalizão com o PDT de Ciro Gomes, que é presidenciável e, sendo o governador Camilo Santana já reeleito e potencial candidato ao Senado, certamente haverá uma disputa presidencial nos moldes de 2018, quando Haddad rivalizou na liderança do pleito no primeiro e segundo turno. Dessa vez, sendo Lula o candidato, o PT terá mais competitividade, ficando a discussão da candidatura ao governo estadual entre o PDT e o PT. Vale lembrar que o PT apoiou o PDT no segundo turno da eleição na Capital em 2020.

O Estado de Pernambuco, governado pelo PSB - hoje atritado com o PT em decorrência da última eleição em Recife - foi força decisiva na eleição presidencial em 2018 e, junto com a Paraíba, deu consistência à frente eleitoral petista nos nove estados nordestinos. Repetir a façanha de ter palanques presidenciais fortes na Paraíba e Pernambuco e com a presença do PT nas chapas majoritárias, como o partido logrou com Humberto Costa e Luís Couto, será um desafio importante, tendo Lula um papel central nessa decisão com o PT.

No Maranhão, o governador reeleito Flávio Dino, candidato ao Senado e decidido a apoiar Lula, desponta com mais densidade para a sucessão o atual senador Weverton Rocha, do PDT, que na eleição de 2018 hesitou na largada, mas assumiu o apoio a Haddad e se elegeu como o “Senador de Lula” no Maranhão. O PT legitimamente pleiteia estar na composição da chapa majoritária.

No Piauí, a forte liderança de Wellington Dias e da coalizão de governo, que tem o senador Marcelo Castro (MDB) como mais forte aliado e tendo a candidatura ao senado de Wellington como aglutinador da composição, certamente garante um palanque presidencial forte para Lula no Estado.

Em Sergipe, onde tudo começou com o inesquecível Marcelo Déda, o PT participa hoje de uma coalizão com o PSD do governador Belivaldo Chagas ocupando espaços importantes: a petista Eliane Aquino (viúva de Déda) é a vice-governadora e o partido conta com Rogério Carvalho como senador. O governador já foi reeleito e o desafio é construir a sua sucessão, com o PT tendo nomes fortes e reivindicando encabeçar a coalizão. Vale ressaltar que, na eleição da capital, houve dispersão e o PT acabou tendo candidato próprio, enquanto o governador apoiou a reeleição do atual prefeito, que era PCdoB e foi para o PDT, sendo este reeleito. Reconstruir a relação na coalizão é garantia de palanque presidencial forte no estado.

Em Alagoas, o PT participou do governo de Renan Filho, que deu apoio integral e incondicional a Fernando Haddad em 2018. Agora, já reeleito e candidato ao Senado, não encontra facilidades para construir a sua sucessão, pois perdeu as duas principais cidades - Maceió e Arapiraca - nas eleições municipais. No entanto, seguir na coalizão tentando construir um palanque presidencial forte é o melhor caminho.

Já no Rio Grande do Norte, a construção do palanque presidencial passa pelo palanque de reeleição da governadora Fátima Bezerra e pela manutenção do núcleo essencial de sustentação do seu governo, o que requer atenção especial do PT.

Concluindo, sabemos que a tarefa de construção do palanque presidencial no Nordeste é importantíssimo no atual momento, considerando que a direita no Governo Federal, pretendendo a reeleição, vai jogar as suas cartas na região e terá alguma expressão, polarizando em alguns estados. Por outro lado, os demo-tucanos reapareceram com alguma força em estados importantes como a Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí. E mais, Ciro Gomes tenta se articular com a direita, por meio do DEM e do PSDB e áreas do PSB e outros partidos, como fez na sucessão municipal com algum sucesso mesmo sem ser protagonista das candidaturas vitoriosas ou que foram ao segundo turno.

Portanto, entendendo a polarização nacional Lula/PT vs. Bolsonaro, é fundamental no Nordeste a manutenção do protagonismo petista e a nossa capacidade e habilidade na montagem dos palanques, unindo a esquerda e atraindo o centro, dentro da lógica vitoriosa das nossas coalizões democrático-populares que governam os Estados e lastreiam o contraponto que faz do Consórcio Nordeste uma referência nacional.


Jonas Paulo é Coordenador Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia (CODES-BA) e Coordenador do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas - Nordeste (NAPP-Nordeste) da Fundação Perseu Abramo.


Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Blog.

quarta-feira, 17 de março de 2021

Uma palinha sobre a vacina, por Gustavo Ribeiro


A partir de hoje, o Blog passa a publicar algumas das saborosas "Palinhas" que o meu amigo Gustavo Ribeiro apresenta diariamente na Rádio Cariri FM. São textos que tratam de temas polêmicos com simplicidade, muita verve, um raro senso de humor e nenhuma afetação. Confira:


Aí pessoal, 

É de não crer, é de fazer espantar.

A discussão medíocre, bizarra, a mais pura perda de tempo, retrocesso absurdo que somos obrigados a constatar.

Pois não é que, em plena nova onda dessa terrível pandemia, há quem não queira ser vacinado, imunizado?

Por ingenuidade, receio, ignorância, birra, teimosia ou ideologia.

Meu amigo, quem agora questiona já tomou injeção no braço, na bunda, em gota, com seringa, com pistola. Vacinou contra sarampo, poliomielite, coqueluche, gripe, meningite, tétano, tifo, catapora.

Nunca fez questão de ficar na fila. Acreditava no que via. Nunca leu sequer a bula. Não cobrou responsabilidade, não questionou origem, qualidade ou garantia.

Ei você... você mesmo! Pode olhar pro seu umbigo e dizer:

"Eu sou a experiência!  Por toda vida vacinei a mim, a família, cão, pato, gato... E estar vivo é a mais contundente prova de que sempre confiei plenamente na ciência!"

Pois é... a miopia interior às vezes impede enxergar o óbvio, a razão. Faz esquecer solidariedade e faz perder sensibilidade. Desvaloriza respeito, amor, empatia e comoção.

Bem, vamos fazer nossa parte e pedir a Deus consciência, paz e sabedoria.

Vamos orientar as pessoas. Evitar politizar, desconsiderar, tentar fazer alguém entender que a Terra gira, que somos todos humanos, irmãos e que todo o resto não passa de vã filosofia.

Então agora pra encerrar, vou falar mais uma vez pra vocês:

Pode o mundo acabar, homem em jacaré se transformar, que ainda assim não tem jeito pra dar: descobrir a vacina contra a tal insensatez.


Gustavo Ribeiro é Comentarista da Rádio Cariri 101.1 FM e um entusiasta por Campina Grande.

segunda-feira, 15 de março de 2021

STF, por Fred Ozanan



O poder da narrativa Lula, por Lenon Andrade


Analisar o atual cenário sociopolítico do Brasil não é tarefa fácil. A velocidade dos acontecimentos impressiona até mesmo os mais experientes cartógrafos do mapa político da atualidade. Por isso, essa brevíssima análise está mais para uma selfie do cenário do que para qualquer tentativa de aprofundamento da nossa situação tupiniquim. Contudo, inexiste um ser vivo brasileiro que não tenha sido sacudido pela tsunami Lula dos últimos dias. Sobretudo, a Laja Jato que, pela marolinha fedorenta que se tornou, perdeu completamente a serventia a que se prestou, de aviltar a democracia, atacar a soberania, destruir a economia e ajudar a colocar a cloaca bolsonarista no poder da nação.

O fenômeno Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena para mudar completamente a narrativa e o sentido da história de um país semidestruído pelas aves de rapina empoleiradas no planalto central. A história se configura e reconfigura diante de nós com insights fantásticos de um Brasil profundo que resiste, insiste e persiste para trazer de volta o bem comum ao seu estado da arte!

Não adianta o espírito lavajatista se debater na poça fétida em que se lambuzou porque não conseguirá reverter a narrativa poderosa que tomou conta da nação. A luz da esperança brilhou nos guetos mais escuros onde as forças fascistas da antipolítica haviam prevalecido até recentemente. É justamente isso que garante ao país um reencontro consigo mesmo. Portanto, será inócua qualquer tentativa da banda podre do sistema de Justiça, com seus aliados antinacionalistas, de prejudicar Lula porque o fundamento ético que emergiu junto com a sua figura histórica mostrou-se inabalável nesse embate entre “Davi” e “Golias.” 

Por essa razão, afirmo, sem medo de ser feliz, que a vitória política de Lula já está consumada! Mesmo que ele não concorra e, eu sei que concorrerá, ele elegerá o próximo presidente da república! Quem viver verá!

O cenário que ouso desenhar é parte de uma tese que defendo há algum tempo, cujas hipóteses são as seguintes:

1) Os 7 TB de mensagens em poder de Gilmar Mendes e de outras personagens chaves do tabuleiro é uma pá de cal em qualquer tentativa de ressuscitar a narrativa sebosa da Lava Jato que, aliás, não mais servirá para atacar Lula e as forças de esquerda. Pelo contrário, daqui para frente prejudicará aqueles que inadvertidamente o fizerem. Obviamente que o gado bolsonarista não entra nessa conta.

2) Bolsonaro perderá força por conta da gestão genocida de seu governo. Sobretudo, por conta da imensa luz lançada pelo ex-presidente Lula sobre a sua pessoa e sobre o desastre governamental que este representa.

3) Parcela significativa do empresariado e da política liberal tenderão a ir em direção à Lula para a reconstrução do país, em razão da economia produtiva nos moldes desenvolvimentistas dos seus dois governos. Já se percebem gestos e declarações nessa direção.

4) PSDB, elite de rapina no estilo AMBEV e imprensa golpista tentarão promover um outsider do tipo Luciano Huck ou Henrique Mandeta. É só o que esse povo sabe fazer…

5) O centrão se dividirá entre os principais concorrentes em busca de barganha e autopreservação por ser essa a vocação do campo fisiológico. Provavelmente, nessa partilha, uma parcela seguirá Bolsonaro, a depender do seu desempenho nas pesquisas de opinião Outra parcela seguirá o candidato do PSDB, talvez alguns sigam Ciro Gomes, caso viabilize a sua candidatura, especialmente se for ele o escolhido da AMBEV e, óbvio, Lula receberá aqueles que desejarem conversar. Afinal, nosso campeão pernambucano é mestre na arte do diálogo. E não tenho nenhuma dúvida de que existe uma parcela do centro que caminhará em direção a Lula.

Tudo isso são hipóteses que, portanto, podem se confirmar ou não. O que não mudará é o fato de que Lula será novamente o grande avalista da eleição presidencial, isso se não for ele mesmo o candidato, hipótese em que aposto com grande chance de ver a tese de Lula presidente consagrada nas urnas de 2022.


Lenon Andrade é pastor Batista, membro do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos - CEBI e dirigente municipal do PT de Campina Grande


Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Blog.

domingo, 14 de março de 2021

Vídeo: Comentário para o Programa Cariri em Ação

Na pauta: Anulação das condenações de Lula e o que acontece se o STF decidir pela suspeição de Sergio Moro.


Caso não consiga abrir o vídeo, clique aqui

Programa Cariri em Ação - Apresentador: Marivaldo Alcântara - 13.03.2021

sexta-feira, 12 de março de 2021

Folha de São Paulo confirma palpite do Blog

 

Na última quarta-feira, escrevi aqui no Blog que a decretação da suspeição de Sérgio Moro pelo STF seriam "favas contadas"Um dos argumentos que utilizei para sustentar esse prognóstico foi que, no meu sentir, Bolsonaro não teria interesse nenhum em influenciar no voto-vista do ministro Kássio Nunes Marques, indicado ao STF por ele, nessa matéria.

"Muito antes pelo contrário", enfatizei, considerando que a anulação dos processos da Lava Jato contra Lula por Fachin já haviam restabelecido os direitos políticos do ex-presidente e que, portanto, Bolsonaro não tinha nada a ganhar envolvendo-se no processo decretação da suspeição de Moro, seu adversário direto no campo da direita em 2022.

Hoje a informadíssima  jornalista Mônica Bérgamo escreveu em sua coluna na Folha de São Paulo:

Jair Bolsonaro quer distância do julgamento da suspeição de Sergio Moro no STF (Supremo Tribunal Federal). O presidente acredita que o ex-juiz já está fora do circuito eleitoral. E que qualquer movimento por parte do Palácio do Planalto serviria apenas para dar a ele pretexto para posar de vítima de uma perseguição.

O distanciamento do presidente frustrou os que imaginavam que ele poderia influir no voto do ministro Kassio Nunes, do STF —que pode selar o destino de Moro.

Bolsonaro chegou a se interessar pelo assunto quando a declaração de suspeição de Moro poderia restituir os direitos políticos de Lula. Como isso ocorreu antes do veredicto sobre o ex-juiz, no momento em que o ministro Edson Fachin anulou as condenações do petista, o assunto saiu de seu radar.

Assim, o ministro Nunes Marques, um garantista, está livre de qualquer pressão política para avaliar a matéria e deve votar pela suspeição de Moro, desempatando o placar em prol da concessão do Habeas Corpus a Lula. 

Carmem Lúcia também deve seguir o voto divergente de Gilmar Mendes e decidir pela suspeição do ex-juiz porque vem dando claros sinais nesse sentido e há um amplo consenso no meio jurídico nacional e internacional de que realmente a Lava Jato extrapolou.

Meu palpite: 4X1 pela concessão do Habeas Corpus a Lula. Isso, se Fachin não mudar o voto e formar a unanimidade em favor do ex-presidente (no que realmente não creio).

Seja como for, aposto todas as minhas fichas na decretação da suspeição de Moro. Para mim, são favas contadas.

quinta-feira, 11 de março de 2021

Lula livre, por Fred Ozanan

 

Hoje o Blog tem a honra de iniciar uma parceria com o genial Fred Ozanan, o maior cartunista que Campina Grande já viu nascer, publicando aqui as suas charges, graciosamente cedidas por ele.

Fred Cartunista, como é conhecido nas redes sociais, iniciou sua carreira na saudosa Gazeta do Sertão de Campina Grande, em 1984, e teve trabalhos publicados no Pasquim, Revista Cartoon, Imprensa e Bundas, dentre outras. Foi chargista político do Diário da Borborema, Jornal de Alagoas, O Norte, A Palavra, Correio da Paraíba e Estadão (RO). Frequentemente participa de salões e mostras nacionais e internacionais e já foi laureado com vários prêmios

Na internet publica na Charge On Line e Brazil Cartoon e atualmente integra a equipe de chargistas do Portal UOL.

Siga Fred Ozanan no Instagram: @fredcartunista 


quarta-feira, 10 de março de 2021

Favas contadas

 

Escrevi aqui no Blog que são favas contadas a decretação da suspeição de Moro pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Conversando sobre isso com o meu amigo Gustavo Ribeiro, o homem das palinhas, fiquei  ainda mais convicto do meu palpite.

Senão, vejamos.

O placar está em 2X2. Votaram a favor da concessão do Habeas Corpus a Lula, isto é, pela decretação da suspeição de Sérgio Moro, os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Édson Fachin (relator) e Carmem Lúcia já haviam votado contra o HC antes da interrupção do julgamento, há mais de dois anos. Cássio Nunes Marques, o único que falta votar, pediu vista.

O mais novo ministro do STF é um garantista e vem votando com Mendes e Lewandowski na 2ª Turma. Aliás, em seu primeiro processo envolvendo Lula no STF, ele votou de maneira favorável ao ex-presidente. Deve manter a coerência e votar pela suspeição. Há quem se preocupe pelo fato do ministro ter sido indicado por Bolsonaro e essa não é uma apreensão infundada nesse STF tão politizado. Mas, tudo que o genocida quer neste momento é ver Moro liquidado, pois o seu ex-ministro da Justiça é um concorrente direto dele no campo da direita. Não acho que vá pressionar Nunes Marques nessa matéria, muito antes pelo contrário. Ora, Lula já recuperou os seus direitos políticos com a anulação dos processos da Lava Jato por Fachin e é muito improvável que isso seja revertido, pois formou-se um amplo consenso no meio jurídico brasileiro de que a Lava Jato realmente extrapolou depois que vieram a público os diálogos escandalosos entre Moro, Dallagnol e companhia captados pelo hacker de Araraquara. Para Bolsonaro, já que Lula será candidato mesmo, é melhor aproveitar a ocasião e jogar a última pá de cal em Moro. Reduzirá danos. Assim, penso que Nunes Marques votará pela decretação da suspensão do ex-juiz.

Mesmo que isso não ocorra, a ministra Carmem Lúcia já disse que vai votar de novo. Ora, não há porque votar novamente se não for para mudar a sua decisão. Seria um fato inusitado, algo insólito. Além do mais, Carmem Lúcia vem dando muitos sinais de que já não é uma defensora incondicional da Lava Jato e, no julgamento de ontem, aparteou Gilmar Mendes e Ricardo Levandowski várias vezes para concordar com eles e fez questão de abrir o microfone e dizer, em alto e bom som, que o grampo nos telefones dos advogados de Lula foi um ato "gravíssimo" (sic). Por isso, Carmem Lúcia deve mudar o seu voto e encaminha-lo pela concessão do HC a Lula.

Fachin também vota de novo, mas, ao contrário de Carmem Lúcia e na contracorrente do sentir hegemônico no mundo jurídico nacional e internacional sobre esse caso, ele continua sendo um defensor obcecado da Lava Jato, sabe-se lá porque. Deve proferir um voto longo, cheio de malabarismos jurídicos e com muita empolação, para denegar o HC e justificar a sua fidelidade canina a Moro e seus asseclas. Mas, é muito provável que ficará isolado.

Assim, o meu palpite é que a profecia de Lula será confirmada pela 2ª Turma do STF. A suspeição de Moro será decretada, o ex-presidente será inocentado e, finalmente, a verdade vencerá. 

A conferir.

terça-feira, 9 de março de 2021

O jogo está empatado, mas Lula já é o vencedor


Ontem, o ministro Édson Fachin, um dos mais apaixonados defensores da Operação Lava Jato ("ahah, uhuh, o Fachin é nosso!") surpreendeu o Brasil ao anular subitamente os processos  contra o ex-presidente Lula que tramitaram sob o tacão de Sérgio Moro, restabelecendo os direitos políticos do melhor presidente da República que esse país já teve.

Depois de cinco anos em que a defesa de Lula peticionou o seu primeiro recurso contra o esdrúxulo processo, no qual alega que a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba seria incompetente para decidir sobre investigações ou denúncias ofertadas pela "força tarefa" de Curitiba, eis que o eminente ministro "dá por si" e resolve acatá-lo. Isso após esse pedido da defesa ter sido negado em todas as instâncias que percorreu, inclusive no próprio STF, e num momento em que até os pombos da Praça da Bandeira sabem que a suspeição de Moro são favas contadas na Suprema Corte. Afinal de contas, a profusão de provas produzidas por Dallagnol contra si mesmo, o ex-juiz e os demais procuradores da Lava Jato ao guardar numa nuvem na internet - santa ingenuidade narcisista! - as imorais e antiéticas trocas de mensagens no Telegram captadas pelos hackers de Araraquara, vazadas pelo Intercept, apreendidas pela Operação Spoofing e liberadas pelo ministro Ricardo Levandowski à defesa de Lula, ao TCU e ao STJ - se segurem, malandros!! - falam por si e fazem corar até os seus mais fanáticos defensores, inclusive os jornalistas amestrados da Globo, o supra sumo dessa categoria.

Evidentemente, o restabelecimento dos direitos políticos de Lula em virtude da anulação dos processos foi festejado por todos que cremos na inocência do ex-presidente em face da absoluta falta de provas contra ele e da evidente perseguição que sofreu pelo conluio judicial-midiático da Lava Jato, em decorrência da qual hoje o Brasil padece sob o governo genocida de Jair Bolsonaro.

Entretanto, logo veio "a pulga atrás da orelha". Esmola muito grande, o santo desconfia. Fachin quis justiça para Lula ou salvação para Moro? No fim da noite de ontem, a segunda opção parecia a mais plausível. Fomos dormir ressabiados.

Hoje de manhã, o ministro Gilmar Mendes, presidente da 2ª Turma do STF e crítico acerbo da Lava Jato, se movimenta no tabuleiro e finalmente pauta o julgamento do Habeas Corpus que pede a suspeição de Moro, suspenso há mais de dois anos em função de um pedido de vista dele próprio. 

Fachin não se fez de rogado. Solicitou ao presidente do STF, Luiz Fux, outro ardoroso defensor da Lava Jato ("In Fux we trust!"), que o julgamento fosse adiado. O presidente não matou no peito. Fechou-se em copas e deixou Fachin no vácuo. Mas, o bravo varão de Rondinha não desistiu da manobra protelatória e tentou adiar o julgamento na própria 2ª turma. Debalde. Ficou isolado. Finalmente, o julgamento do HC seria retomado.

Em voto histórico, Gilmar Mendes dissecou o que chama de "maior escândalo judicial da história", não sem antes ressaltar que, por decisões do próprio STF - inclusive uma relatada por Celso de Melo - Sérgio Moro foi denunciado três vezes ao Conselho Nacional de Justiça por parcialidade em outras ações penais, todas elas arquivadas por aquele órgão historicamente corporativista. 

Dando seguimento ao seu voto-vista, recheado de citações dos diálogos escandalosos captados pelos hackers de Araraquara, Gilmar Mendes chamou a condução coercitiva de Lula de "hediondo espetáculo policialesco", disse que havia um "consórcio" dos procuradores e do juiz Moro com a mídia, a qual "prestava assessoria de imprensa" a eles e definiu como "coisa de regime totalitário" o grampo ilegal no escritório dos advogados de Lula, ao que foi aparteado pela ministra Carmem Lúcia, que exclamou: "Gravíssimo!". Em seguida, estupefato com a "tabelinha", nas palavras de Dallagnol, entre Moro e os procuradores, afirmou que o ex-juiz se comportou como "revisor técnico das peças do MPF". Concluiu, então, que Lula foi submetido a um "modelo autoritário de persecução penal", reconheceu "a suspeição do julgador", declarou "a nulidade do processo desde o recebimento da denúncia", verificou a "ilegalidade da prisão do paciente (Lula)" e a revogou "definitivamente". Aí veio a cereja do bolo: determinou que Sérgio Moro seja condenado ao pagamento das custas processuais da ação penal (ai!!).

Em seguida, o ministro Cássio Nunes pediu vista ao processo, mas Ricardo Levandowski proferiu o seu voto favorável à concessão do HC, cuja conclusão, por sua potência, faz-se mister transcrever: "Eu invalido totalmente esta ação penal, enfatizando que nenhum ato, mesmo após o recebimento da denúncia, pode ser, de qualquer forma, convalidado". Xeque-mate em Fachin, que resolveu dar o seu voto revisado depois do voto-vista de Cássio Nunes, no que foi seguido por Carmem Lúcia. Assim, o placar ficou em 2X2. Empate técnico.

O jogo ainda não acabou, mas Lula já é o vencedor. Em pleno gozo de seus direitos políticos, aguarda apenas a decretação da suspeição de Moro, o juiz ladrão. E isso, são favas contadas.

domingo, 7 de março de 2021

Cobaias do fascismo

 

Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, um cientista extremamente respeitado internacionalmente, tuitou recentemente que "O Brasil é um laboratório a céu aberto onde se pode observar a dinâmica natural do coronavírus sem qualquer medida eficaz de contenção Todo o mundo vai testemunhar a devastação épica que o SARS-CoV-2 pode causar quando nada é feito de verdade para contê-lo”.

De fato, a semana que se encerrou ontem foi a mais letal de toda a pandemia no país, como se pode verificar no gráfico reproduzido acima, extraído do site do Ministério da Saúde. Foram 10.104 mortes causadas pela Covid-19, o que representa um aumento de 22,6% em relação à semana anterior e uma média de 1.443 óbitos por dia, um macabro recorde absoluto. 

Até o momento, pois nada indica que essa progressão trágica será revertida na semana que se inicia hoje, aniversário de morte da primeira vítima fatal da Covid-19 no Brasil , ocorrida em 12/03/2020. Afinal, seguimos com a vacinação a "conta-gotas", a "política" de negação, omissão, desídia, indiferença, desinformação, sabotagem, chacota e transferência de responsabilidade por parte de Jair Bolsonaro e seu governo, a pusilanimidade de grande parte de governadores e prefeitos, a conivência de muitos parlamentares municipais, estaduais e federais, a complacência do poder judiciário e a incrível idiotia negacionista de milhões de brasileiros e brasileiras que insistem em não cumprir as medidas sanitárias que poderiam diminuir a transmissão do vírus, desafogar um sistema de saúde em colapso e frear a multiplicação de mortes.

Concordando com Miguel Nicolelis que o Brasil virou um grande laboratório, havemos de concluir que Bolsonaro é o "cientista-chefe" e Pazuello o seu principal assistente. Quanto a nós, somos as cobaias de um experimento fascista, pois, como denunciaram ao Mundo hoje personalidades como dom Mauro Morelli, bispo emérito de Caxias, padre Júlio Lancellotti, frei Leonardo Boff, Chico Buarque de Holanda, o próprio Nicolelis e muitos outros em Carta Aberta à Humanidade (assine aqui), "nos tornamos uma 'câmara de gás' a céu aberto" onde "assistimos horrorizados ao extermínio de nossa população, sobretudo dos pobres, quilombolas e indígenas".

Até quando?

sexta-feira, 5 de março de 2021

Parabéns, vereador Marcos Henriques



Ontem, vereadores e vereadoras de João Pessoa deram um show de irresponsabilidade, oportunismo e hipocrisia ao aprovarem um projeto de lei que torna missas e outros cultos religiosos como atividades essenciais na capital. A aprovação só não foi por unanimidade porque o vereador Marcos Henriques (PT) - aliás, um cristão evangélico praticante - votou contra. Foi o único. 

Ao encaminhar o seu voto em plenário, Marcos Henriques citou o recorde de 1.910 mortes da quarta-feira, avocou o cientista Miguel Nicolelis e sua previsão sobre a possibilidade de que o Brasil venha a ter 3 mil óbitos diários nas próximas semanas e lembrou aos colegas parlamentares que as pessoas vão aos cultos e missas nos ônibus lotados que circulam diariamente na capital, o que potencializa, evidentemente, a disseminação do vírus. Debalde. Pregou no deserto. Foi voto vencido.

Prevaleceu o oportunismo dos legisladores pessoenses, que, na contracorrente da ciência e das autoridades sanitárias, alargaram irresponsavelmente o conceito de "atividades essenciais" para muito além do que estabelece o nosso ordenamento jurídico. Com efeito, antes da covid-19, o conceito de "atividade essencial" era usado exclusivamente na legislação brasileira para limitar o direito de greve em setores ligados ao "atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade" (Constituição Federal, Art. 9º, parágrafo 1º) e, na regulamentação desse dispositivo constitucional, a lei 7.783/1989 traz uma lista de atividades dessa natureza, com destaque para (i) tratamento e abastecimento de água; (ii) produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; (iii) assistência médica e hospitalar; (iv) distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; (v) serviços funerários; (vi) transporte coletivo; (vii) captação e tratamento de esgoto e lixo; (viii) telecomunicações; (ix) compensação bancária, dentre outras.

Ora, evidentemente ir a um culto ou a uma missa não pode ser considerado como uma "necessidade inadiável da comunidade", afinal de contas pode-se rezar (ou orar) em casa, não é mesmo? Ainda mais porque as Igrejas - sejam elas de qual credo forem - têm canais de TV e no Youtube, páginas na internet, perfis nas redes sociais etc. em que usualmente transmitem seus cultos, missas e rituais, além de outros vários programas devotados ao cultivo espiritual de seus fiéis.

Portanto, além de irresponsável e inoportuno, esse dispositivo da lei aprovada ontem na Câmara Municipal de João Pessoa é inconstitucional. Oxalá o prefeito da capital ouça um de seus maiores opositores na CMJP, consulte a Constituição Federal e use a sua prerrogativa de veto para derrubar essa excrescência.

Quando tudo o que precisamos nesse momento gravíssimo em que vivemos a maior crise sanitária da história do nosso país é aprofundar o distanciamento social, alargar o conceito de "atividades essenciais" para atender, sabe-se lá a quais interesses, é um ato irresponsável, oportunista e hipócrita. Representa, como disse Marcos Henriques ao Blog, "um movimento negacionista enrustido" entre os(as) nobres edis da capital.

Parabéns ao vereador Marcos Henriques pela coragem e coerência em nadar contra essa corrente. O povo de João Pessoa agradece.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Segue em paz, companheiro

 

Faleceu hoje Luiz de Souza Júnior, professor da UFPB e militante do Partido dos Trabalhadores da Paraíba, mais uma vítima dessa triste tragédia que vivemos, a Covid-19, contra a qual ele lutou - como o guerreiro que sempre foi - por sessenta longos dias de hospitalização. 

Conheci Luiz Júnior quando ele era chefe de gabinete do reitor Rômulo Polari na UFPB e eu pró-reitor de Projetos Estratégicos da UFCG, ocasião em que nós coordenávamos os projetos de expansão de nossas Instituições no âmbito do Plano de Expansão das Universidades Federais, lançado pelo governo Lula em 2004. Compartilhamos muitas ideias, angústias e alegrias no desempenho dessa missão desafiadora e a UFPB deve a Luiz Júnior o seu Campus IV, situado em Mamanguape e Rio Tinto. Seria justo homenageá-lo dando o seu nome àquele centro de formação.

Pessoa extremamente afável, porém franco, sincero e objetivo, Luiz Júnior era um verdadeiro gentlemanGraduado em Ciências Econômicas pela UFPB e Mestre e Doutor em Educação pela UFPB e USP, o professor Luiz Júnior foi secretário de Educação da capital, coordenador de programas profissionais da Área de Educação da CAPES, conselheiro do Conselho Estadual de Educação do Estado da Paraíba e presidente do Diretório Municipal do  PT de João Pessoa.

A Paraíba perde um grande homem e o campo democrático-popular do nosso Estado, tão carente de personalidades ínclitas como ele, deixa de contar com um militante sério, combativo e coerente.

Segue em paz, companheiro.

quarta-feira, 3 de março de 2021

terça-feira, 2 de março de 2021

UFCG: uma transição vergonhosa

 

A mais recente transição na reitoria da UFCG é uma vergonha. Depois de uma eleição limpa e muito  participativa em que a chapa que disputava a recondução aos cargos foi eleita, seguiram-se vários capítulos patéticos.

Não digo que seja o caso da elaboração da lista tríplice pelo Colegiado Pleno, que seguiu o rito legal, mas essa tal lista de três nomes a ser encaminhada para o presidente da República escolher qual ele desejar é, ela própria, patética. Esse dispositivo autoritário, que foi instituído pela ditadura militar através da famigerada reforma universitária de 1968 para controlar as universidades com mão de ferrodeveria ter sido extirpado da legislação depois que a Constituição de 1988 consagrou a autonomia universitária como princípio fundamental. Mas, Fernando Henrique Cardoso e o então ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, resolveram mantê-lo na Lei 9.192, de 1995, perpetuando esse rotundo mecanismo de ataque à autonomia universitária. O "príncipe da Sociologia" é um cínico: fala uma coisa e pratica outra. Para quem duvida, é bom lembrar que ele mandou todo mundo esquecer o que ele havia escrito antes de se tornar presidente da República...

Seja como for, Lula e Dilma sempre nomearam os mais votados pela comunidade universitária, prática que adotaram para todas as listas tríplices, inclusive para a Procuradoria Geral da República. Foram coerentes e republicanos. Optaram pela legitimidade democrática ao invés de se esconderem sob o manto da legalidade autoritária.

Ao contrário dos presidentes petistas, esse régulo que atende pelo nome de Jair Bolsonaro tem feito justamente o contrário: faz questão de não nomear os eleitos pela comunidade universitária. Já fez isso 20 vezes, todas em que teve a oportunidade de nomear reitores, como a dizer: "aqui quem manda sou eu". Típico desse traste ignaro que hoje ocupa o Palácio da Alvorada.

Foi essa postura que "seduziu" os professores John Kennedy Guedes e Marcus Vinícius Lia Fook, candidatos a reitor e vice que ficaram em segundo lugar numa eleição em que se apresentaram à comunidade universitária como "candidatos de esquerda" e assinaram um documento em que se comprometiam a não assumirem os cargos caso não vencessem a eleição. Tudo mentira, oportunismo puro. Demonstrando uma falta de caráter espantosa e uma estupidez monumental, esses dois farsantes enviaram um vídeo estulto e sabujo ao presidente da República mendigando a nomeação. 

Mais patético do que isso, só mesmo a nomeação dos professores Antônio Fernandes Filho e Mario Eduardo Rangel Moreira Cavalcanti-Mata, que obtiveram menos de 20% dos votos.

Entretanto, essa ópera-bufa não terminou aí. Nomeados no dia 23 de fevereiro, Antônio e Mario não se dignaram a procurar o reitor em exercício para o estabelecimento de uma transição que não traga solução de continuidade aos inúmeros processos didático-científicos, administrativos e de gestão financeira e patrimonial da universidade. Fecharam-se em copas, sabe-se lá porque. 

Isso levou o ex-reitor e o reitor em exercício a emitirem a nota que reproduzo acima, o que deu azo a mais um capítulo patético nessa novela de quinta categoria. No dia posterior, às 7h35, como a querer escapar do vexame, Antônio correu a protocolar um requerimento no sistema eletrônico de informações da UFCG (Processo SEI nº 23096.009918/2021-31) solicitando uma data para iniciar o processo de transição, mas, às 8h50, ele cancelou o requerimento e o substituiu por outro, que também seria cancelado às 9h29, quando finalmente ele protocolou o documento em sua forma final. Ufa, nem Os Trapalhões fariam melhor...

O que Antônio e Mário deveriam fazer era renunciar aos cargos que vão ocupar de maneira espúria, contra a vontade da comunidade universitária. Assim, eles respeitariam o processo de escolha democrática a que se submeteram e honrariam a tradição republicana de nossa Instituição. Mas, atos nobres não têm lugar na Bolsolândia.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Porque Bolsonaro ama a pandemia


É inacreditável que um presidente da República possa agir de maneira tão vil diante da morte de milhares e do sofrimento de milhões de cidadãos e cidadãs sob o seu governo, como Bolsonaro vem fazendo desde o início da pandemia do covid-19. Negação, omissão, desídia, indiferença, desinformação, sabotagem, chacota e transferência de responsabilidade: é isso que ele faz e promove no contexto da maior crise sanitária da história da Brasil, que já ceifou mais de 255 mil vidas.

É inacreditável, mas é explicável. 

Em primeiro lugar, todo fascista é um necrófilo. Sente prazer com a morte e o sofrimento do outro. Tem orgasmo ao torturar e matar. Não há como esperar um mínimo de empatia e humanidade de um sujeito cujo herói é o coronel Brilhante Ustra, o monstro sádico que na ditadura militar chefiou o DOI-Codi - o "quartel-general" da tortura - e que tinha como prática estuprar e inserir ratos vivos na vagina de suas vítimas, entre outras barbaridades. Esse mesmo sujeito, hoje presidente da República, que disse que a ditadura militar "deveria ter matado uns 30 mil" no Brasil. Jair Bolsonaro é um fascista, ele cultua a morte, por isso ama a pandemia.

Mas, há algo além de deficiência de caráter nessa tara bolsonariana. Sua postura nefanda tem alguma coisa de estratégia. Embora a pandemia afete pessoas de todas as idades e classes sociais, a mortalidade é infinitamente maior entre os pobres e os idosos, como se sabe. Pessoas que, na visão de neoliberais fanáticos como ele, são tão-somente "pesos mortos" para o país: melhor que morram mesmo, o quanto antes, pois assim, eles ajudam no "equilíbrio das contas públicas", no "ajuste fiscal" e a resolver os (alegados) problemas de caixa da previdência social. Por seu pragmatismo patológico, Bolsonaro ama a pandemia.

O presidente mais preguiçoso e incapaz que este país já teve também ama a covid-19 por interesses eleitoreiros. Por um lado, enquanto houver pandemia, Bolsonaro vai se eximindo de sua própria incúria administrativa e incompetência em governar, pois tudo será culpa dela. Ou dos governadores, ou dos prefeitos, ou do fórum de São Paulo, ou do diabo que o carregue. Por outro lado, Bolsonaro alimenta as hordas de imbecis teleguiados que o seguem com as suas diatribes negacionistas e obscurantistas que, espalhadas pelas redes sociais por robôs e gentes, ajudam a manter os seus inacreditáveis 30% de popularidade. Para quem acreditou em kit gay e mamadeira de piroca, tudo é possível. Afinal de contas, o homem é um mito...

Pode haver, ainda, interesses mais venais naquela personalidade doentia. Como um negociante vulgar, o ex-deputado que enriqueceu a si e aos filhos com "rachadinhas" y otras cosítas más, pode ter visto uma "oportunidade" na crise, mesmo sendo ela das mais lúgubres. Não sei não, mas essa coisa de "prescrever" e propagandear insistentemente remédios contraindicados por médicos e cientistas, que explodiram em vendas da noite para o dia, me cheira a jabá. E ele, como um dos mais proeminentes espécimes do baixo clero da política nacional, adora um jabá. Sabe-se lá o que pode urdir aquela mente insana. A conferir...

Finalmente, mas não menos importante, embora Bolsonaro combata o isolamento social e não se canse de promover aglomerações, ele sabe que o campo democrático-popular respeita a ciência e a vida e, por responsabilidade, empatia e coerência, suas lideranças não vão promover manifestações de rua, que seriam o único meio para desgastá-lo, isolá-lo e - quem sabe? - impedi-lo de seguir governando o país como um psicopata sanguinário. Também por isso, Bolsonaro ama a pandemia e abomina a vacina (para os outros).