sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O Falcão e a Rainha da Borborema, por Carlos Andrade


Por Carlos Andrade*

Após quinze dias de iniciado o horário de propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV e de muita movimentação nas redes sociais, o eleitorado da cidade de Campina Grande-PB ainda não tem uma definição sobre em quem vai votar para prefeito. É o que se pode inferir do resultado da pesquisa de intenção de voto para Prefeito de Campina Grande-PB, realizada pelo Instituto Opinião.

Segundo reportagem do blog de notícias MaisPB (aqui), as entrevistas foram realizadas entre os dias 22 e 23 de outubro do corrente, a vinte e cinco dias das eleições. Abrangendo uma amostra de 600 respondentes, considerando um intervalo de confiança de 95% e uma margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. Os resultados, apresentados na forma de gráficos, exaltam a liderança do candidato do atual prefeito, porém uma outra narrativa pode ser inferida. Considerando as respostas estimuladas e espontâneas, os candidatos Bruno Cunha Lima e Inácio Falcão mantém uma distância muito semelhante, na disputa pela primeira colocação. Na espontânea estão separados por 18 pontos percentuais e na estimulada por 20 pontos percentuais (lembrar que a margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais). Na segunda colocação vislumbra-se um empate técnico entre Inácio Falcão e a candidata Ana Cláudia. Os demais três candidatos somam 8,3% na estimulada e na espontânea apenas Olímpio Rocha aparece com 1%. 

O fato essencial para a estratégia eleitoral dos candidatos com estes resultados é o que mostram os percentuais de “Branco/Nulo/Nenhum” e “Indeciso/Não sabe”. Agregando estas categorias numa categoria chamada indefinidos, verifica-se que nas respostas estimuladas o percentual chega a aproximadamente 25% da amostra, ou um quarto do eleitorado. Considerando as respostas espontâneas, observa-se cerca de 45% de indefinidos, sendo um terço (33%) de “Indeciso/Não sabe”. Na questão sobre rejeição verifica-se um pouco mais de um terço (33,7%) de “Indeciso/Não sabe”. Desta forma, pode-se inferir que, pelo menos, um terço do eleitorado ainda está indefinido quanto ao seu voto. 

Neste cenário, pode-se imaginar que, para ganhar a eleição no primeiro turno, o candidato do atual prefeito teria que absorver os votos dos “Indecisos/Não sabe” (37,2% + 13% = 50,2%) ou os votos de Ana Cláudia (12,5%) mais alguns indecisos. Esta conjectura não é estranha ao histórico das disputas eleitorais da Paraíba e especialmente em Campina Grande. Os dois candidatos representam as três oligarquias familiares que dominam a administração da cidade por mais de trinta anos, de perfil conservador com verniz modernizante. Nesta campanha, declaradamente bolsonaristas.

O candidato Inácio Falcão surge como alternativa viável de mudança na gestão da cidade. Experiente político com autêntica personalidade popular, tem anos de trabalho social junto à população de precarizados e vulneráveis do município. Compondo uma chapa de frente ampla democrática aglomera em torno de si forças que propugnam por reais mudanças em favor do povo campinense.

Conclusão: o cenário que se desenha mais desafiante seria a ocorrência de uma aliança entre as oligarquias locais (muito factível) juntando Bruno Cunha Lima e Ana Cláudia frente à campanha de Inácio Falcão, que teria de brigar por votos dos indecisos. Emocionante desfecho.

(*) Carlos Andrade é Economista, Professor aposentado da UFCG e Dirigente Municipal do PT de Campina Grande.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Blog

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O PT e as eleições de 2020, por José Guimarães

 

O PT tem sido alvo de críticas em relação a sua participação nas eleições, processo totalmente em aberto até o momento. Fazer projeções agora só pode ser por maldade. Tem havido críticas injustas às esquerdas, em especial ao PT.

A realidade desmente tese que tem sido difundida a respeito de suposto “isolamento do PT” no processo eleitoral atual ou de “resistência” do partido a alianças. O PT disputa as eleições nos maiores centros políticos do País. Em três  capitais tem alianças com o Psol, em outras três com o PCdoB, em cinco outras com a Rede e em duas com o PSB.

Em todo o País, o PT apoia 173 candidatos do PDT, que apoia petistas em 134 cidades. O PT apoia 140 candidaturas do PSB, que por sua vez apoia 117 do PT. O PCdoB recebe apoio do PT em 45 localidades e dá apoio a petistas em 152 cidades. O PT apoia candidatos do Psol em 16 cidades e recebe apoio do partido em 50. Já a Rede tem o apoio do PT em 13 cidades e dá apoio a candidaturas petistas em 29 localidades.

As alianças comprovam a firme disposição do PT para fortalecer as forças democráticas antibolsonaristas na resistência ao autoritarismo e aos retrocessos patrocinados pelo governo atual em todas as áreas. De todo modo, é importante salientar que, com o fim das coligações e com a cláusula de barreira, é de vital importância aos partidos o lançamento de candidaturas próprias para a divulgação de seus programas.

O PT vive um quadro bastante diferente de 2016, quando foi alvo de um golpe de Estado e das perseguições da Lava Jato. Tem hoje em torno de 1.500 candidaturas às prefeituras registradas no Tribunal Superior Eleitoral e cerca de 29 mil candidatos a vereadores e vereadoras em todo o País. O PT está num processo de reconquista do eleitorado.

A presença do PT é valorizada porque o povo brasileiro conhece o legado dos governos petistas (2003 até o golpe de 2016).

 Quem não valoriza a política ou os políticos e fala sobre antipetismo comete dois erros. Primeiro, é pela política que podemos resolver democraticamente os problemas da sociedade, como constataram os gregos há mais de 2 mil anos. Em relação ao antipetismo, é uma falácia. Basta dizer que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o principal transferidor de votos no País, inclusive em São Paulo, a despeito da perseguição política, midiática e judicial de que foi vítima.

As eleições de 2020 abrem um processo de disputa política com alianças que pavimentam caminho para a reconquista do governo central em 2022, por forças progressistas que coloquem o Brasil nos trilhos antes que seja destruído pelo atual governo.

A frente democrática se constrói nas alianças com partidos progressistas nas eleições municipais e na resistência no Congresso Nacional à agenda conservadora e supressora de direitos do atual governo. 

José Guimarães é deputado federal (PT-CE) e coordenador nacional do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do partido.