quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Vamos precisar de todo mundo, por Jonas Paulo


“Um mais um é sempre mais que dois” 
Beto Guedes

O descalabro que as elites levaram o Brasil com o golpe contra o Governo da Dilma chegou ao limite de desestruturar a economia, esgarçar o tecido social e desmontar o Estado e as instituições públicas democráticas, pondo em risco a própria democracia, as liberdades civis e os direitos de cidadania.

A extrema-direita neofascista, desde 2013, foi às ruas, disseminou o ódio ao petismo, envolveu a direita neoliberal, ganhou a mídia oligárquica, o parlamento fisiológico e contagiou o judiciário e as forças de segurança e defesa, o que redundou na excrescência que está sentada na cadeira de presidente, e que sucumbiu na pandemia em criminosos negacionismo e charlatanismo, que teve como consequência mais de 600 mil mortos por covid na maior crise sanitária que o país já viveu.

O Brasil não tem mais orçamento, pois agora é secreto, não tem programa ou plano estratégico, desmontou o PAC e o PPI, extinguiu os programas sociais e de distribuição de renda e de valorização do Salário Mínimo. O governo passou a atuar por demanda pontual do capital financeiro e do grande capital, e virou refém das gigantes petrolíferas, além da forte tutela militar.

Se é verdade que o tecido econômico e social se dilacera a cada dia, também é verdadeira a cumplicidade e conivência do parlamento fisiológico que sustenta o governo e valida suas iniciativas nefastas ao país.

Portanto, derrotar esse esquema de poder da extrema-direita e reverter o atual estado de coisas não são coisas simplórias que se resolvam em atos e palavras de ordem espontâneas voluntaristas e pretensamente heroicas ou radicais. É necessário arregimentar forças democráticas políticas e sociais, mobilizar segmentos econômicos, mexer e, no mínimo, neutralizar a mídia oligárquica e conservadora, movimentar as redes, ruas e rádios e, principalmente, despertar um clima de indignação, inconformismo e revolta que está latente no povo trabalhador desempregado, uberizado, autônomo, no biscate, diarista, pauperizado vivendo na porta ou já integrado ao crescente batalhão de brasileiros e brasileiras na extrema pobreza e inscritos no mapa da fome.

Enfrentar esse quadro dramático requer um enorme esforço no dia-a-dia e muito diálogo e ação presencial, mesmo que resulte da ação nas redes. A solidariedade e o incentivo à mobilização e à atitude não têm como prescindir do “olho no olho”, da palavra que conforta e anima, além do indispensável caminhar lado a lado.

Vivemos um período pré-eleitoral de uma disputa que pode ser definitiva para interditar o projeto da extrema-direita pois tem na presença de Lula no cenário um contraponto e uma alternativa democrática real e de construção de um novo projeto para o país e, mais que isso, uma esperança acesa para o povo pobre e trabalhador de que é possível termos dias melhores.

Sendo Lula a principal liderança do PT, cabe ao nosso partido o protagonismo na construção da frente política das forças de esquerda e democráticas que conduzirá o processo de enfrentamento da candidatura presidencial da extrema direita.

A disputa eleitoral tem um caráter nacional, pois são os destinos da nação que estão em disputa, mas é nos estados onde se estruturam os palanques presidenciais, tendo papel importante as candidaturas de governadores, senadores e deputados como condutores e sustentáculos da candidatura presidencial. É nos estados e municípios onde o voto se materializa.

O cenário ideal é que a candidatura de Lula, que é muito sólida no plano nacional, busque construir palanques fortes e competitivos nos estados, particularmente nos maiores colégios eleitorais do país. Desta forma, sem dúvidas, não cabem candidaturas majoritárias nos estados apenas para marcar posição e aprisionar na sua baixa densidade eleitoral a forte candidatura presidencial de Lula, colocando uma bola de ferro no seu pé impedindo que ela cresça e caminhe para ter maioria nos estados. No cenário real do presidencialismo brasileiro, as alianças têm um papel importante nas eleições majoritárias, mesmo com as chapas proporcionais autônomas.

Nesse contexto, o Nordeste, onde está o maior número de governadores e senadores petistas, constituiu coalizões políticas e eleitorais com as forças de esquerda e de centro que não só foram vitoriosos nas eleições nos nove estados nordestinos, como garantiram as maiores margens de vantagem em votos às nossas candidaturas presidenciais, suprindo as margens desfavoráveis no Sul e Sudeste.

As coalizões, além das forças tradicionais da esquerda – PCdoB, PSB e PDT – têm, conforme o caso, parcerias com PSD, PP e, principalmente, o MDB. E, nessa lógica, os governos estaduais, diante das dificuldades institucionais com o governo federal, constituíram o Consórcio Nordeste e, envolvendo o PT, PSB, PDT, PCdoB, MDB e PSD, formaram um bloco sólido e uma frente política regional com repercussão nacional.

Nas condições atuais da disputa com a extrema-direita, é imprescindível garantir o arco de alianças e a densidade política nordestina, assim como a manutenção do mesmo diapasão no Norte, principalmente no Pará, Tocantins e Amazonas, e foco no “triângulo das bermudas” – MG, RJ e SP – onde é fundamental equilibrar os palanques e as disputas, observando e disputando os espaços com as forças de centro, inclusive com pactos de 1° ou 2°turno tendo como norte a centralidade da disputa nacional contra a extrema direita.

Também faz-se necessário fortalecer a articulação nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que outrora possuíam desempenhos excelentes, pois tínhamos governos municipais em diversas grandes cidades e até em capitais e nos governos de estado, mas que sofreram declínio nos últimos anos e têm sido marcados por candidaturas petistas de perfil eleitoral com desempenho insuficiente para polarizar a disputa nacional, apesar da melhora do potencial com alianças que permanecem e têm importância estratégica elevada.

Enfim, será uma disputa acirrada, na qual os palanques estaduais fortes são fundamentais por não se tratar de uma eleição “solteira” e a TV aberta ser menos decisiva, pois perdeu espaço para as redes sociais e o clima das ruas.

Do ponto de vista programático, a disputa será de projetos para o país e fortemente marcada pela disputa ideológica e de valores, além de ter um componente de trato de linguagem e conteúdo popular dialogando com as periferias urbanas das grandes e médias cidades e com os rincões sertanejos desse imenso e diverso Brasil.

Temos um imenso e rico legado e uma carreta carregada de realizações para colocar na agenda de Reconstrução do país, que alimenta no povo o sonho da volta de Lula à Presidência, entretanto, na pauta da Transformação precisamos, além de focar na política de maiorias (mulheres jovens, negros) e atualizar as pautas com esses segmentos sociais majoritários e estratégicos, devemos dar conta da fome que avança assustadoramente, das mudanças no mundo do trabalho, com o avanço da uberização e informalidade, e, ainda, da força estruturadora da valorização do Salário Mínimo, o maior indexador da economia real na vida das pessoas.

Precisamos realçar a força e capilaridade do SUS, visto na pandemia, e o aprofundamento da imensa rede de ensino público, com a universalização do acesso e capilarização territorial do ensino superior e técnico-científico e o suporte ao ensino básico e fundamental desde o transporte, a valorização do professor à merenda escolar.

Também é fundamental ampliar os debates sobre a retomada da economia, a valorização dos bancos públicos e das empresas de ponta e os investimentos em infraestrutura, logística, diversificação da matriz energética, petróleo e gás, novas tecnologias, comunicação eletrônica e conectividade.

Outra pauta de importância primordial é a questão ambiental, que deve ancorar-se na sustentabilidade, na gestão equilibrada dos recursos naturais, na preservação dos biomas e no planejamento territorial do desenvolvimento, observando o imenso potencial agrícola, mineral e de proteína animal do país.

Jonas Paulo é coordenador do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas do Nordeste (NAPP-NE) da Fundação Perseu Abramo e foi Presidente do PT da Bahia.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Crônica incidental de uma entrevista espetacular

 

Com trilha sonora do paraibano Chico César, fã de Lula e vice-versa, Reinaldo Azevedo entrevistou o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva neste 1º de abril de 2021 na Rádio Bandnews FM de São Paulo, com transmissão simultânea na Bandnews TV e no YouTube, que, quando escrevo este post, registra mais de 1,6 milhão de visualizações, um verdadeiro fenômeno. De fato, a entrevista bateu recordes de audiência em todas as plataformas em que foi veiculada (veja aqui e aqui) e, segundo a insuspeita Revista Época, foi 18 vezes maior (!!) do que a live semanal do genocida (veja aqui). 

De terno e gravata, indumentária que fez questão de justificar como adequada para entrevistar um ex-presidente da República, o inventor do neologismo "petralha" e crítico acerbo do petismo, iniciou a live fazendo logo uma autocrítica sobre o seu posicionamento contra as cotas raciais, luta histórica do movimento negro brasileiro e política pública implementada pelos governos Lula e Dilma após um amplo (e duro) debate na sociedade brasileira e no Congresso Nacional. Disse Azevedo:

"Eu errei. Eu vou entrevistar o presidente Lula daqui a pouco. Eu errei em ser contra a política de cotas. E quando alguém erra tem que reconhecer. Errou, reconhece. Qual é o problema? É assim que se avança"

Para um bom entendedor, meia palavra basta.  O Tio Rei acenava a sua bandeira branca para Lula e deixava no ar uma exortação aos arrependidos de 2018 (a imensa maioria ainda enrustida), àqueles que - siderados pelo antipetismo incutido durante anos na cabeça do povo brasileiro pela mídia hegemônica e/ou enganados pelo lawfare da hoje desmoralizada Lava Jato e/ou engambelados pelas fake news da campanha eleitoral - contribuíram para que um psicopata alcançasse o mais alto poder da República. 

Ora, errou, reconhece. Qual é o problema? É assim que se avança. Concordo plenamente!

O primeiro tema da entrevista foi sobre a condenação sem provas e a prisão injusta de Lula, cuja verdade dos fatos foi restabelecida recentemente pelo STF com a decretação da parcialidade de Sérgio Moro, o juiz ladrão. Lula profetizara isso no livro que publicou antes de ser preso - A verdade vencerá - e no histórico depoimento a Sérgio Moro, quando o ex-presidente disse ao juiz que este estava "condenado a condená-lo", pois a mídia já o fizera. Conclusivo, Lula asseverou:

"Eu estou muito tranquilo, a Lava Jato saiu da minha vida".

Pura verdade. Como são pura verdade os dados apurados pelo DIEESE que Lula apresentou sobre os prejuízos que a malfadada Operação Lava Jato deu ao país, dados estes pronta e enfaticamente chancelados pelo entrevistador, inclusive citando outras fontes. Disse Lula:

"O Ministério Público fica tentando fazer pirotecnia com a sociedade brasileira dizendo que arrecadou 4 bilhões com a Petrobras. Eles deram um prejuízo ao país de 172 bilhões de reais que deixaram de ser investidos, 47 bilhões de impostos que deixaram de ser pagos, 20 bilhões sobre folha de pagamento e 85 bilhões de massa salarial. E o resultado disso tudo são 4 milhões e 400 mil trabalhadores que perderam emprego".

No momento em que se confessou "trotskista na infância" e liberal na maturidade, Azevedo trouxe o tema das relações entre o Estado e o Mercado, discussão muito importante. Depois de afirmar ser contra o "Estado empresarial" e a favor do "Estado indutor de desenvolvimento", Lula concluiu o debate formulando mais um dos seus impagáveis chistes:

"Ô Reinaldo, faz um favor pra mim. Tenta provocar um debate entre eu e o tal Mercado. Eu quero saber quem é esse tal de Mercado que dá tanto palpite. (...) Esse mercado, se tivesse juízo, ele ia na Aparecida do Norte pagar promessa para eu voltar."

Pausa para rir. Foi o que fez Reinaldo Azevedo, cujas feições iam revelando uma crescente empatia pelo entrevistado. Aliás, arrisco dizer - baseado nas repercussões da entrevista que me chegaram por mensagens, pelas inúmeras memes que inundaram as redes sociais e pelo que li na mídia alternativa - que foi exatamente este o sentimento geral entre os ouvintes e espectadores, mesmo aqueles que não são fãs incondicionais do ex-presidente: uma profunda empatia.

Ora, Lula fala a linguagem do povo com a segurança dos sábios, como o fez pautando a discussão sobre a pandemia, sem dúvida o seu grande foco. Nesse momento, falou o Estadista:

"O Bush [ex-presidente dos EUA], eu e o Hu Jintao [ex-presidente da China] criamos o G20 para tentar salvar a economia. Por que os líderes dos países não se reúnem agora para discutir Covid-19? Por que não transformam a vacina em um Bem da Humanidade para todo cidadão ter direito à vacina? Então, o que está faltando é dirigente para tomar decisão."

Alguém discorda disso? E, certamente, não haverá de discordar do seu recado ao genocida:

"Eu espero que o Bolsonaro esteja assistindo nosso programa, pro Bolsonaro saber que não tem jeito esse país se não tiver um salário emergencial de 600 reais até terminar essa pandemia. E que essa pandemia só vai terminar quando tiver vacina pra todo mundo. Então, deixa de ser ignorante, presidente, pare de brigar com a ciência."

Não satisfeito com esse gancho no fígado do psicopata, Lula desferiu-lhe um cruzado na ponta do queixo:

"Lamentavelmente, a gente tem um presidente que não consegue falar com nenhum presidente. Jogou todas as fichas em cima do Trump. E esse cara, ninguém quer conversar com ele. E ele se fez assim.

Nós estamos vivendo um genocídio, não um genocídio de Estado como foi contra os negros e os indígenas, porque um genocídio praticado sob responsabilidade de um único homem.

Bolsonaro, quando é que você vai assumir a responsabilidade e parar de brincar de governar esse país? Pelo amor de Deus, aceita o conselho da Ciência pra cuidar do Coronavírus. Fecha a boca, Bolsonaro! Da mesma forma que você não sabe falar sobre Economia, não sabe sobre Saúde, então deixa o seu ministro da Saúde falar, deixa o pessoal do SUS falar, deixa os governadores e os prefeitos falarem."

Logo em seguida, ambos se chamaram de "companheiros". Azevedo com um largo sorriso no rosto. Como milhões de brasileiros e brasileiras que acompanharam a entrevista, todos esperançosos por dias melhores.


quinta-feira, 1 de abril de 2021

O jejum, o lockdown e a apostasia dos violentos, por Lenon Andrade


Era o ano de 1963. Enéas Tognini, pastor membro da conservadora Convenção Batista Brasileira, convoca os evangélicos do país para um jejum de salvação nacional do perigo comunista, vendido pela propaganda do movimento autoritário de 1964 como justificativa para atacar a Constituição Federal, destruir o estado democrático de direito e derrubar um presidente democraticamente eleito pelo povo. Foi assim que, quatro meses depois da dita convocação, João Goulart foi deposto e o Brasil mergulhou em 20 anos de ditadura militar, marcada por supressão de liberdades individuais, perseguição política, prisões injustas, torturas e assassinatos de homens, jovens e mulheres, inclusive evangélicos, que ousaram se levantar contra o regime.

O jejum dos profetas, atualizado no Evangelho de Jesus, nada tem a ver com a defesa da injustiça e do arbítrio! O profeta Isaías, por exemplo, é claro na convocação nacional dos filhos de Israel a respeito do sentido do jejum:

“O povo pergunta a Deus: Que adianta jejuar, se tu nem notas? Por que passar fome, se não te importas com isso?"

O Senhor responde:

A verdade é que nos dias de jejum vocês cuidam dos seus negócios e exploram os seus empregados. Vocês passam os dias de jejum discutindo e brigando e chegam até a bater uns nos outros. Será que vocês pensam que, quando jejuam assim, eu vou ouvir as suas orações? O que é que eu quero que vocês façam nos dias de jejum? Será que desejo que passem fome, que se curvem como um bambu, que vistam roupa feita de pano grosseiro e se deitem em cima de cinzas? É isso o que vocês chamam de jejum? Acham que um dia de jejum assim me agrada? Não! Não é esse o jejum que eu quero!

Eu quero que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos, que acabem com todo tipo de escravidão. O jejum que me agrada é que vocês repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que estão desabrigados, que deem roupas aos que não têm e que nunca deixem de socorrer os seus parentes.” (Isaías 58:3-7).

A clareza da proclamação profética contrasta radicalmente com a verborragia evangélica que apoia um jejum nacional em defesa do arbítrio liderada por um presidente violento que debocha da morte, enquanto realiza a festa da indiferença diante das perdas de vidas do povo brasileiro para a Covid-19. Por isso, a atualidade da denúncia profética alinhavada nestas linhas!

Para nada serve um jejum nacional, carregado de enganação verborrágica, liderado por fariseus contemporâneos, ávidos de holofotes e dos benefícios oriundos dos seus projetos de poder! Nenhum jejum que não esteja ligado à defesa e à proteção da vida tem valor algum. Nenhum jejum que desconsidere as ações das aves de rapina do sistema financeiro e da elite sanguessuga contra o nosso povo é digno de crédito, justamente porque é contra a ganância manifesta no egoísmo diabólico desses grupos, servos do deus do dinheiro e da riqueza, que a voz da profecia ecoa neste texto!

Defender o lockdown como ato de amor e preservação da vida, quando necessário, é ministério profético de todo(a) verdadeiro(a) seguidor(a) de Jesus de Nazaré. Mobilizar a Igreja para unir-se às periferias abandonadas pelo Estado, que passam necessidades, saciando-lhes a fome, é sinônimo de jejum autêntico e libertador. Fazer o jejum silencioso, na solidão de Deus, como exercício de reflexão sobre a vida concreta e como esvaziamento radical do ser egoísta que nos habita é o passo primeiro para a transformação da própria vida para tornar-se um evangelho vivo a ser comunicado ao mundo! Esse é o jejum que aprendo com a Bíblia. O contrário disso não passa de apostasia fundamentalista!


Lenon Andrade é pastor evangélico Batista, membro do CEBI - Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos e dirigente municipal do PT de Campina Grande.


Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Blog.

segunda-feira, 22 de março de 2021

Uma palinha de exortação, por Gustavo Ribeiro




Aí pessoal...

Deixa perguntar:


O que você vê da sua janela?

O que da sua janela você vê?


Vê a rua, a lua. Vê o dia, neon, o mar?

Vê muros, paredes, grafites? Vê outras janelas?

Vê carros, pessoas... a pressa delas?

Vê labirintos, canteiros, becos, vielas?


Da minha janela vejo nuvens, o céu azul.

Árvores, folhas, o verde.

Vejo ninhos, o voo dos passarinhos.

Vejo o norte, vejo o sul.

Vejo desconhecidos, amigos, pessoas, vizinhos.


Das nossas janelas vemos vida, e o sentido dela.

Vemos além. Vemos por dentro, por fora.


Há janela de condomínio.

Janela de bacana.

Janela de vidro temperado.

Há fresta estreita na janela da choupana.

De onde não se pode espiar o outro lado.


Há janelas no alto imponentes. Item de decoração.

Embaixo, no chão, improviso entre telhado de zinco, piso de terra batida.

Buraco na parede de papelão.


O que cabe na nossa janela?

O que cabe na nossa moldura?

Cabe empatia, sensibilidade, caridade?

Cabe um espelho que possa refletir o interior, descobrir o que somos de verdade?


Uma janela que se abre,

por onde se enxerga através,

pode ser o momento,

a oportunidade,

da busca do rumo, do prumo, do caminho sem viés.


Bora refletir:


O que entra pela sua janela ilumina o canto da sala.

E o que sai por ela, o que ilumina?


A matéria, o desejo de ter?

Ou o espírito, coração, a pureza da alma, a grandeza do ser?


Pela minha janela vejo os meus, os nossos, os seus.

Pela minha janela vejo o que sou, o que creio e pra onde vou.

Da minha janela eu vejo a luz, eu vejo Deus.



Gustavo Ribeiro é Comentarista da Rádio Cariri 101.1 FM e um entusiasta por Campina Grande.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Ódio e Nojo


Enquanto milhões de brasileiros e brasileiras choram por seus mortos - familiares, amigos, colegas de trabalho, companheiros de luta, conhecidos, vizinhos e até adversários ("na morte a gente esquece", como diz o Chico) - ou que simplesmente se enternecem por empatia ao próximo;

No momento em que centenas de milhares de cidadãs e cidadãos agonizam nas UTIs lotadas, padecem em enfermarias e corredores de hospitais, se desesperam em filas infindáveis aguardando por um leito para sobreviver, falecem em ambulâncias ou esperando por socorro, morrem sufocadas em casa, num barraco, embaixo de um viaduto, na rua;

Ao mesmo tempo em que milhares de trabalhadoras e trabalhadores da Saúde arriscam as suas vidas na agoniante faina diária de uma guerra inglória em que não medem esforços para honrar o mandado de Hipócrates; no instante mesmo em que esses abnegados heróis e heroínas se extenuam, se deprimem, temem infectar a família, são infectados, adoecem, agonizam e morrem;

Na semana em que ficamos sabendo que os medicamentos necessários para a intubação dos pacientes em estado grave estão acabando nos hospitais - ao que não se atentou o néscio ex-ministro-general, mesmo escaldado pela tragédia do oxigênio em Manaus - e que as farmacêuticas nacionais informam ao novo ministro da Saúde - outro pau-mandado - que não têm capacidade de produzi-los a tempo para suprir os estoques;

No dia em que o Brasil vacinou pouco mais de 300 mil pessoas, se mantendo junto aos países com os menores índices de imunização per capita do mundo, quando poderíamos estar entre os primeiros, pois o SUS, o maior sistema público de atenção à saúde do planeta, tem condições de vacinar 2 milhões de pessoas por dia no país;

No mesmo dia em que 2.724 brasileiros e brasileiras morreram de Covid-19 e em que foram computados 86.982 novos casos, dois macabros recordes mundiais;

O pústula que ocupa a Presidência da República, o sujeito que ama a pandemia, o negacionista que desdenhou das vacinas quando o mundo inteiro corria atrás delas, o sádico que se omite, desinforma, sabota, transfere responsabilidade, age com desídia, indiferença e chacota frente à maior tragédia sanitária da nossa história, teve o desplante de remedar asquerosamente uma pessoa se sufocando em sua live semanal, picadeiro online do abjeto circo de horrores que é o seu governo, enquanto grunhia:

"Sem problema, se tu começar a sentir um negócio esquisito lá, tu segue aí a receita do ministro Mandetta: cê vai pra casa e quando você tiver [arremedo e grunhido], [repete o arremedo e o grunhido], falta de ar, aí você vai pro hospital."   (Jair Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil, 18/03/2021)

Estou tão indignado e perplexo, que me faltam palavras para concluir este post. Então, vou evocar o grande Ulisses Guimarães, parafraseando-o no que ele disse sobre a ditadura militar em seu discurso histórico de promulgação da Constituição de 1988.

Tenho ódio e nojo desse genocida que governa o Brasil e da corja que o apoia. 

#ForaBolsonaro
#ImpeachmentJá

quinta-feira, 18 de março de 2021

Nordeste: centro decisivo da eleição presidencial, por Jonas Paulo

Lula discursa em Monteiro-PB, 19/03/2017 (Foto: Ricardo Stuckert)


Historicamente, o Nordeste era a reserva estratégica de votos para a manutenção do poder das elites sudestinas e sulistas, que mantinham estreitas alianças com os coronéis oligarcas controladores dos currais eleitorais onde estavam os tristemente conhecidos votos de cabresto.

Com um forte trabalho de base do sindicalismo rural, ONGs de educação popular e Pastorais da Terra, Operária e da Juventude nos anos 80 e 90, elevou-se significativamente o nível de organização e consciência dos trabalhadores rurais e urbanos em todos os estados nordestinos.

Esse trabalho ganhou espaço nos partidos políticos de esquerda e de centro e se reproduziu na eleição de vereadores, prefeitos, parlamentares estaduais e federais. Foi avançando e começou a eleger governadores, desmontando o poder das velhas oligarquias em cada estado. O que mudou radicalmente a estrutura de poder na região, gerando lideranças de porte nacional como Marcelo Déda, Jaques Wagner, Eduardo Campos, Ricardo Coutinho e Wellington Dias.

A nova geração de poder politico no Nordeste ganha densidade com a presença do Governo Lula e com as cisões nas estruturas do poder oligárquico que passam a compor a base dos novos governos de centro-esquerda, entendendo que essas cisões já vinham se configurando desde a emergência das lideranças de Waldir Pires, Miguel Arraes, Jackson Lago e Ciro Gomes.

PT Bom de Governo

Certo é que o desenvolvimentismo ganha fôlego nos novos governos nordestinos impulsionados principalmente pelo governo federal do Presidente Lula, pois os governos estaduais replicam os mesmos valores, princípios e fundamentos da governança federal petista enfeixados numa concepção central: o Estado Democrático indutor dos investimentos públicos e parcerias privadas, regulador da economia, provedor dos serviços à cidadania e inibidor das desigualdades sociais e regionais.

E essa sintonia fina produziu uma transformação grandiosa na infraestrutura e na logística da região, na política habitacional, na diversificação da matriz energética com fontes renováveis e, ainda, no petróleo e gás. Também houve avanços na mobilidade urbana, conectividade, interiorização do ensino superior e técnico e a promoção de uma forte inclusão social com as políticas de renda e de valorização do Salário Mínimo, além das tecnologias sociais na convivência com o Semiárido e na Agricultura Familiar com a incorporação dos assentados da Reforma Agrária e quilombolas.

O resultado foi a retirada do Brasil do Mapa da Fome e o Nordeste alcançando índices de crescimento nos padrões chineses - acima de 7% ao ano - além de ser a retaguarda estratégica das eleições das candidaturas presidenciais petistas, ofertando sempre mais de 10 milhões de votos de frente sobre os adversários.

Com o golpe de estado contra o governo legítimo da Presidenta Dilma e a desestruturação das políticas de desenvolvimento e inclusão social – além de uma forte crise marcada pela restrição fiscal e orçamentária com prevalência no governo federal das teses neo e ultraliberais do Estado Mínimo – a intensidade dos investimentos públicos foi reduzida drasticamente.

Contudo, os governos estaduais continuaram se orientando pelos mesmos princípios e fundamentos de gestão democrática e popular e avançaram nas modalidades de gestão e investimentos, introduzindo as PPP e Concessões, preservando o papel indutor e regulador do Estado atraindo investimentos privados, fortalecendo as cooperativas de produção e intensificando a criação de consórcios públicos interfederativos que culminaram no Consórcio dos Governadores do Nordeste, um contraponto fundamental ao neoliberalismo federal e instrumento de gestão eficiente na integração regional e expansão das políticas públicas no território nordestino.

Na atual conjuntura, o desempenho dos governadores por meio do Consórcio Nordeste foi fundamental para a articulação interna e internacional que resultou, após autorização legislativa e da Suprema Corte, na aquisição de 39 milhões de doses da vacina Sputnik V junto ao Fundo Soberano Russo.

Sucessões Estaduais e Presidencial

O Nordeste, que foi decisivo em todos os pleitos presidenciais desde 2002, garantindo na região a maioria ampla para Lula, Dilma e Haddad, é onde o partido tem as melhoras perspectivas políticas e eleitorais para 2022, ainda mais sendo Lula o candidato. Entretanto, o quadro não é tão simples, pois teremos sete sucessões de governos já reeleitos – AL, BA, CE, MA, PE, PI e SE – e apenas duas tentativas de reeleição – PB e RN.

Como se tratam de governos de coalizão com composições que vão da esquerda à centro-direita, inclusive com a participação de partidos da base do atual governo federal, a costura das alianças para a construção do palanque presidencial é mais delicada e requer mais astúcia política e, acima de tudo, a prevalência da visão nacional sobre o cenário da disputa local.

A eleição é em dois turnos, mas a tática tem prioridade nacional e portanto os palanques presidenciais nos estados nordestinos devem ser fortes e agregadores, porque aqui está a maior força eleitoral do campo democrático-popular no País. A eleição de bancadas federais e sua ampliação é importante, mas só depende dos próprios partidos, pois não há mais coligação proporcional. Já as chapas majoritárias para os Governos e o Senado serão o lastro político da chapa presidencial.

A importância de se ocupar essas posições estratégicas está comprovada no atual momento político do País, quando, mesmo na oposição ao governo federal, os governadores fazem o contraponto, ampliam a base progressista, articulam as ações com o Consórcio Nordeste e, quando o PT esteve no governo federal, fortaleceram o projeto nacional replicando as suas políticas mais estratégicas ou estruturantes.

Já no Senado, com uma bancada representativa, dificilmente os adversários do campo democrático-popular compõem maioria qualificada, o que torna a luta mais renhida em defesa dos nossos projetos, estando nós na oposição ou no governo central.

O quadro atual é complexo e desafiador. Na Bahia, a candidatura de Jaques Wagner ao governo agrega a base atual e faz um palanque presidencial muito forte, com muitas chances de garantir as margens de vitórias dos últimos pleitos que variaram de 3 a 4 milhões de votos de frente sobre o adversário.

No Ceará, o xadrez político é mais complexo pois o PT governa o Estado em coalizão com o PDT de Ciro Gomes, que é presidenciável e, sendo o governador Camilo Santana já reeleito e potencial candidato ao Senado, certamente haverá uma disputa presidencial nos moldes de 2018, quando Haddad rivalizou na liderança do pleito no primeiro e segundo turno. Dessa vez, sendo Lula o candidato, o PT terá mais competitividade, ficando a discussão da candidatura ao governo estadual entre o PDT e o PT. Vale lembrar que o PT apoiou o PDT no segundo turno da eleição na Capital em 2020.

O Estado de Pernambuco, governado pelo PSB - hoje atritado com o PT em decorrência da última eleição em Recife - foi força decisiva na eleição presidencial em 2018 e, junto com a Paraíba, deu consistência à frente eleitoral petista nos nove estados nordestinos. Repetir a façanha de ter palanques presidenciais fortes na Paraíba e Pernambuco e com a presença do PT nas chapas majoritárias, como o partido logrou com Humberto Costa e Luís Couto, será um desafio importante, tendo Lula um papel central nessa decisão com o PT.

No Maranhão, o governador reeleito Flávio Dino, candidato ao Senado e decidido a apoiar Lula, desponta com mais densidade para a sucessão o atual senador Weverton Rocha, do PDT, que na eleição de 2018 hesitou na largada, mas assumiu o apoio a Haddad e se elegeu como o “Senador de Lula” no Maranhão. O PT legitimamente pleiteia estar na composição da chapa majoritária.

No Piauí, a forte liderança de Wellington Dias e da coalizão de governo, que tem o senador Marcelo Castro (MDB) como mais forte aliado e tendo a candidatura ao senado de Wellington como aglutinador da composição, certamente garante um palanque presidencial forte para Lula no Estado.

Em Sergipe, onde tudo começou com o inesquecível Marcelo Déda, o PT participa hoje de uma coalizão com o PSD do governador Belivaldo Chagas ocupando espaços importantes: a petista Eliane Aquino (viúva de Déda) é a vice-governadora e o partido conta com Rogério Carvalho como senador. O governador já foi reeleito e o desafio é construir a sua sucessão, com o PT tendo nomes fortes e reivindicando encabeçar a coalizão. Vale ressaltar que, na eleição da capital, houve dispersão e o PT acabou tendo candidato próprio, enquanto o governador apoiou a reeleição do atual prefeito, que era PCdoB e foi para o PDT, sendo este reeleito. Reconstruir a relação na coalizão é garantia de palanque presidencial forte no estado.

Em Alagoas, o PT participou do governo de Renan Filho, que deu apoio integral e incondicional a Fernando Haddad em 2018. Agora, já reeleito e candidato ao Senado, não encontra facilidades para construir a sua sucessão, pois perdeu as duas principais cidades - Maceió e Arapiraca - nas eleições municipais. No entanto, seguir na coalizão tentando construir um palanque presidencial forte é o melhor caminho.

Já no Rio Grande do Norte, a construção do palanque presidencial passa pelo palanque de reeleição da governadora Fátima Bezerra e pela manutenção do núcleo essencial de sustentação do seu governo, o que requer atenção especial do PT.

Concluindo, sabemos que a tarefa de construção do palanque presidencial no Nordeste é importantíssimo no atual momento, considerando que a direita no Governo Federal, pretendendo a reeleição, vai jogar as suas cartas na região e terá alguma expressão, polarizando em alguns estados. Por outro lado, os demo-tucanos reapareceram com alguma força em estados importantes como a Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí. E mais, Ciro Gomes tenta se articular com a direita, por meio do DEM e do PSDB e áreas do PSB e outros partidos, como fez na sucessão municipal com algum sucesso mesmo sem ser protagonista das candidaturas vitoriosas ou que foram ao segundo turno.

Portanto, entendendo a polarização nacional Lula/PT vs. Bolsonaro, é fundamental no Nordeste a manutenção do protagonismo petista e a nossa capacidade e habilidade na montagem dos palanques, unindo a esquerda e atraindo o centro, dentro da lógica vitoriosa das nossas coalizões democrático-populares que governam os Estados e lastreiam o contraponto que faz do Consórcio Nordeste uma referência nacional.


Jonas Paulo é Coordenador Executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia (CODES-BA) e Coordenador do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas - Nordeste (NAPP-Nordeste) da Fundação Perseu Abramo.


Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Blog.

quarta-feira, 17 de março de 2021

Uma palinha sobre a vacina, por Gustavo Ribeiro


A partir de hoje, o Blog passa a publicar algumas das saborosas "Palinhas" que o meu amigo Gustavo Ribeiro apresenta diariamente na Rádio Cariri FM. São textos que tratam de temas polêmicos com simplicidade, muita verve, um raro senso de humor e nenhuma afetação. Confira:


Aí pessoal, 

É de não crer, é de fazer espantar.

A discussão medíocre, bizarra, a mais pura perda de tempo, retrocesso absurdo que somos obrigados a constatar.

Pois não é que, em plena nova onda dessa terrível pandemia, há quem não queira ser vacinado, imunizado?

Por ingenuidade, receio, ignorância, birra, teimosia ou ideologia.

Meu amigo, quem agora questiona já tomou injeção no braço, na bunda, em gota, com seringa, com pistola. Vacinou contra sarampo, poliomielite, coqueluche, gripe, meningite, tétano, tifo, catapora.

Nunca fez questão de ficar na fila. Acreditava no que via. Nunca leu sequer a bula. Não cobrou responsabilidade, não questionou origem, qualidade ou garantia.

Ei você... você mesmo! Pode olhar pro seu umbigo e dizer:

"Eu sou a experiência!  Por toda vida vacinei a mim, a família, cão, pato, gato... E estar vivo é a mais contundente prova de que sempre confiei plenamente na ciência!"

Pois é... a miopia interior às vezes impede enxergar o óbvio, a razão. Faz esquecer solidariedade e faz perder sensibilidade. Desvaloriza respeito, amor, empatia e comoção.

Bem, vamos fazer nossa parte e pedir a Deus consciência, paz e sabedoria.

Vamos orientar as pessoas. Evitar politizar, desconsiderar, tentar fazer alguém entender que a Terra gira, que somos todos humanos, irmãos e que todo o resto não passa de vã filosofia.

Então agora pra encerrar, vou falar mais uma vez pra vocês:

Pode o mundo acabar, homem em jacaré se transformar, que ainda assim não tem jeito pra dar: descobrir a vacina contra a tal insensatez.


Gustavo Ribeiro é Comentarista da Rádio Cariri 101.1 FM e um entusiasta por Campina Grande.

segunda-feira, 15 de março de 2021

STF, por Fred Ozanan



O poder da narrativa Lula, por Lenon Andrade


Analisar o atual cenário sociopolítico do Brasil não é tarefa fácil. A velocidade dos acontecimentos impressiona até mesmo os mais experientes cartógrafos do mapa político da atualidade. Por isso, essa brevíssima análise está mais para uma selfie do cenário do que para qualquer tentativa de aprofundamento da nossa situação tupiniquim. Contudo, inexiste um ser vivo brasileiro que não tenha sido sacudido pela tsunami Lula dos últimos dias. Sobretudo, a Laja Jato que, pela marolinha fedorenta que se tornou, perdeu completamente a serventia a que se prestou, de aviltar a democracia, atacar a soberania, destruir a economia e ajudar a colocar a cloaca bolsonarista no poder da nação.

O fenômeno Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena para mudar completamente a narrativa e o sentido da história de um país semidestruído pelas aves de rapina empoleiradas no planalto central. A história se configura e reconfigura diante de nós com insights fantásticos de um Brasil profundo que resiste, insiste e persiste para trazer de volta o bem comum ao seu estado da arte!

Não adianta o espírito lavajatista se debater na poça fétida em que se lambuzou porque não conseguirá reverter a narrativa poderosa que tomou conta da nação. A luz da esperança brilhou nos guetos mais escuros onde as forças fascistas da antipolítica haviam prevalecido até recentemente. É justamente isso que garante ao país um reencontro consigo mesmo. Portanto, será inócua qualquer tentativa da banda podre do sistema de Justiça, com seus aliados antinacionalistas, de prejudicar Lula porque o fundamento ético que emergiu junto com a sua figura histórica mostrou-se inabalável nesse embate entre “Davi” e “Golias.” 

Por essa razão, afirmo, sem medo de ser feliz, que a vitória política de Lula já está consumada! Mesmo que ele não concorra e, eu sei que concorrerá, ele elegerá o próximo presidente da república! Quem viver verá!

O cenário que ouso desenhar é parte de uma tese que defendo há algum tempo, cujas hipóteses são as seguintes:

1) Os 7 TB de mensagens em poder de Gilmar Mendes e de outras personagens chaves do tabuleiro é uma pá de cal em qualquer tentativa de ressuscitar a narrativa sebosa da Lava Jato que, aliás, não mais servirá para atacar Lula e as forças de esquerda. Pelo contrário, daqui para frente prejudicará aqueles que inadvertidamente o fizerem. Obviamente que o gado bolsonarista não entra nessa conta.

2) Bolsonaro perderá força por conta da gestão genocida de seu governo. Sobretudo, por conta da imensa luz lançada pelo ex-presidente Lula sobre a sua pessoa e sobre o desastre governamental que este representa.

3) Parcela significativa do empresariado e da política liberal tenderão a ir em direção à Lula para a reconstrução do país, em razão da economia produtiva nos moldes desenvolvimentistas dos seus dois governos. Já se percebem gestos e declarações nessa direção.

4) PSDB, elite de rapina no estilo AMBEV e imprensa golpista tentarão promover um outsider do tipo Luciano Huck ou Henrique Mandeta. É só o que esse povo sabe fazer…

5) O centrão se dividirá entre os principais concorrentes em busca de barganha e autopreservação por ser essa a vocação do campo fisiológico. Provavelmente, nessa partilha, uma parcela seguirá Bolsonaro, a depender do seu desempenho nas pesquisas de opinião Outra parcela seguirá o candidato do PSDB, talvez alguns sigam Ciro Gomes, caso viabilize a sua candidatura, especialmente se for ele o escolhido da AMBEV e, óbvio, Lula receberá aqueles que desejarem conversar. Afinal, nosso campeão pernambucano é mestre na arte do diálogo. E não tenho nenhuma dúvida de que existe uma parcela do centro que caminhará em direção a Lula.

Tudo isso são hipóteses que, portanto, podem se confirmar ou não. O que não mudará é o fato de que Lula será novamente o grande avalista da eleição presidencial, isso se não for ele mesmo o candidato, hipótese em que aposto com grande chance de ver a tese de Lula presidente consagrada nas urnas de 2022.


Lenon Andrade é pastor Batista, membro do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos - CEBI e dirigente municipal do PT de Campina Grande


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