terça-feira, 9 de março de 2021

O jogo está empatado, mas Lula já é o vencedor


Ontem, o ministro Édson Fachin, um dos mais apaixonados defensores da Operação Lava Jato ("ahah, uhuh, o Fachin é nosso!") surpreendeu o Brasil ao anular subitamente os processos  contra o ex-presidente Lula que tramitaram sob o tacão de Sérgio Moro, restabelecendo os direitos políticos do melhor presidente da República que esse país já teve.

Depois de cinco anos em que a defesa de Lula peticionou o seu primeiro recurso contra o esdrúxulo processo, no qual alega que a 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba seria incompetente para decidir sobre investigações ou denúncias ofertadas pela "força tarefa" de Curitiba, eis que o eminente ministro "dá por si" e resolve acatá-lo. Isso após esse pedido da defesa ter sido negado em todas as instâncias que percorreu, inclusive no próprio STF, e num momento em que até os pombos da Praça da Bandeira sabem que a suspeição de Moro são favas contadas na Suprema Corte. Afinal de contas, a profusão de provas produzidas por Dallagnol contra si mesmo, o ex-juiz e os demais procuradores da Lava Jato ao guardar numa nuvem na internet - santa ingenuidade narcisista! - as imorais e antiéticas trocas de mensagens no Telegram captadas pelos hackers de Araraquara, vazadas pelo Intercept, apreendidas pela Operação Spoofing e liberadas pelo ministro Ricardo Levandowski à defesa de Lula, ao TCU e ao STJ - se segurem, malandros!! - falam por si e fazem corar até os seus mais fanáticos defensores, inclusive os jornalistas amestrados da Globo, o supra sumo dessa categoria.

Evidentemente, o restabelecimento dos direitos políticos de Lula em virtude da anulação dos processos foi festejado por todos que cremos na inocência do ex-presidente em face da absoluta falta de provas contra ele e da evidente perseguição que sofreu pelo conluio judicial-midiático da Lava Jato, em decorrência da qual hoje o Brasil padece sob o governo genocida de Jair Bolsonaro.

Entretanto, logo veio "a pulga atrás da orelha". Esmola muito grande, o santo desconfia. Fachin quis justiça para Lula ou salvação para Moro? No fim da noite de ontem, a segunda opção parecia a mais plausível. Fomos dormir ressabiados.

Hoje de manhã, o ministro Gilmar Mendes, presidente da 2ª Turma do STF e crítico acerbo da Lava Jato, se movimenta no tabuleiro e finalmente pauta o julgamento do Habeas Corpus que pede a suspeição de Moro, suspenso há mais de dois anos em função de um pedido de vista dele próprio. 

Fachin não se fez de rogado. Solicitou ao presidente do STF, Luiz Fux, outro ardoroso defensor da Lava Jato ("In Fux we trust!"), que o julgamento fosse adiado. O presidente não matou no peito. Fechou-se em copas e deixou Fachin no vácuo. Mas, o bravo varão de Rondinha não desistiu da manobra protelatória e tentou adiar o julgamento na própria 2ª turma. Debalde. Ficou isolado. Finalmente, o julgamento do HC seria retomado.

Em voto histórico, Gilmar Mendes dissecou o que chama de "maior escândalo judicial da história", não sem antes ressaltar que, por decisões do próprio STF - inclusive uma relatada por Celso de Melo - Sérgio Moro foi denunciado três vezes ao Conselho Nacional de Justiça por parcialidade em outras ações penais, todas elas arquivadas por aquele órgão historicamente corporativista. 

Dando seguimento ao seu voto-vista, recheado de citações dos diálogos escandalosos captados pelos hackers de Araraquara, Gilmar Mendes chamou a condução coercitiva de Lula de "hediondo espetáculo policialesco", disse que havia um "consórcio" dos procuradores e do juiz Moro com a mídia, a qual "prestava assessoria de imprensa" a eles e definiu como "coisa de regime totalitário" o grampo ilegal no escritório dos advogados de Lula, ao que foi aparteado pela ministra Carmem Lúcia, que exclamou: "Gravíssimo!". Em seguida, estupefato com a "tabelinha", nas palavras de Dallagnol, entre Moro e os procuradores, afirmou que o ex-juiz se comportou como "revisor técnico das peças do MPF". Concluiu, então, que Lula foi submetido a um "modelo autoritário de persecução penal", reconheceu "a suspeição do julgador", declarou "a nulidade do processo desde o recebimento da denúncia", verificou a "ilegalidade da prisão do paciente (Lula)" e a revogou "definitivamente". Aí veio a cereja do bolo: determinou que Sérgio Moro seja condenado ao pagamento das custas processuais da ação penal (ai!!).

Em seguida, o ministro Cássio Nunes pediu vista ao processo, mas Ricardo Levandowski proferiu o seu voto favorável à concessão do HC, cuja conclusão, por sua potência, faz-se mister transcrever: "Eu invalido totalmente esta ação penal, enfatizando que nenhum ato, mesmo após o recebimento da denúncia, pode ser, de qualquer forma, convalidado". Xeque-mate em Fachin, que resolveu dar o seu voto revisado depois do voto-vista de Cássio Nunes, no que foi seguido por Carmem Lúcia. Assim, o placar ficou em 2X2. Empate técnico.

O jogo ainda não acabou, mas Lula já é o vencedor. Em pleno gozo de seus direitos políticos, aguarda apenas a decretação da suspeição de Moro, o juiz ladrão. E isso, são favas contadas.

domingo, 7 de março de 2021

Cobaias do fascismo

 

Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, um cientista extremamente respeitado internacionalmente, tuitou recentemente que "O Brasil é um laboratório a céu aberto onde se pode observar a dinâmica natural do coronavírus sem qualquer medida eficaz de contenção Todo o mundo vai testemunhar a devastação épica que o SARS-CoV-2 pode causar quando nada é feito de verdade para contê-lo”.

De fato, a semana que se encerrou ontem foi a mais letal de toda a pandemia no país, como se pode verificar no gráfico reproduzido acima, extraído do site do Ministério da Saúde. Foram 10.104 mortes causadas pela Covid-19, o que representa um aumento de 22,6% em relação à semana anterior e uma média de 1.443 óbitos por dia, um macabro recorde absoluto. 

Até o momento, pois nada indica que essa progressão trágica será revertida na semana que se inicia hoje, aniversário de morte da primeira vítima fatal da Covid-19 no Brasil , ocorrida em 12/03/2020. Afinal, seguimos com a vacinação a "conta-gotas", a "política" de negação, omissão, desídia, indiferença, desinformação, sabotagem, chacota e transferência de responsabilidade por parte de Jair Bolsonaro e seu governo, a pusilanimidade de grande parte de governadores e prefeitos, a conivência de muitos parlamentares municipais, estaduais e federais, a complacência do poder judiciário e a incrível idiotia negacionista de milhões de brasileiros e brasileiras que insistem em não cumprir as medidas sanitárias que poderiam diminuir a transmissão do vírus, desafogar um sistema de saúde em colapso e frear a multiplicação de mortes.

Concordando com Miguel Nicolelis que o Brasil virou um grande laboratório, havemos de concluir que Bolsonaro é o "cientista-chefe" e Pazuello o seu principal assistente. Quanto a nós, somos as cobaias de um experimento fascista, pois, como denunciaram ao Mundo hoje personalidades como dom Mauro Morelli, bispo emérito de Caxias, padre Júlio Lancellotti, frei Leonardo Boff, Chico Buarque de Holanda, o próprio Nicolelis e muitos outros em Carta Aberta à Humanidade (assine aqui), "nos tornamos uma 'câmara de gás' a céu aberto" onde "assistimos horrorizados ao extermínio de nossa população, sobretudo dos pobres, quilombolas e indígenas".

Até quando?

sexta-feira, 5 de março de 2021

Parabéns, vereador Marcos Henriques



Ontem, vereadores e vereadoras de João Pessoa deram um show de irresponsabilidade, oportunismo e hipocrisia ao aprovarem um projeto de lei que torna missas e outros cultos religiosos como atividades essenciais na capital. A aprovação só não foi por unanimidade porque o vereador Marcos Henriques (PT) - aliás, um cristão evangélico praticante - votou contra. Foi o único. 

Ao encaminhar o seu voto em plenário, Marcos Henriques citou o recorde de 1.910 mortes da quarta-feira, avocou o cientista Miguel Nicolelis e sua previsão sobre a possibilidade de que o Brasil venha a ter 3 mil óbitos diários nas próximas semanas e lembrou aos colegas parlamentares que as pessoas vão aos cultos e missas nos ônibus lotados que circulam diariamente na capital, o que potencializa, evidentemente, a disseminação do vírus. Debalde. Pregou no deserto. Foi voto vencido.

Prevaleceu o oportunismo dos legisladores pessoenses, que, na contracorrente da ciência e das autoridades sanitárias, alargaram irresponsavelmente o conceito de "atividades essenciais" para muito além do que estabelece o nosso ordenamento jurídico. Com efeito, antes da covid-19, o conceito de "atividade essencial" era usado exclusivamente na legislação brasileira para limitar o direito de greve em setores ligados ao "atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade" (Constituição Federal, Art. 9º, parágrafo 1º) e, na regulamentação desse dispositivo constitucional, a lei 7.783/1989 traz uma lista de atividades dessa natureza, com destaque para (i) tratamento e abastecimento de água; (ii) produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; (iii) assistência médica e hospitalar; (iv) distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; (v) serviços funerários; (vi) transporte coletivo; (vii) captação e tratamento de esgoto e lixo; (viii) telecomunicações; (ix) compensação bancária, dentre outras.

Ora, evidentemente ir a um culto ou a uma missa não pode ser considerado como uma "necessidade inadiável da comunidade", afinal de contas pode-se rezar (ou orar) em casa, não é mesmo? Ainda mais porque as Igrejas - sejam elas de qual credo forem - têm canais de TV e no Youtube, páginas na internet, perfis nas redes sociais etc. em que usualmente transmitem seus cultos, missas e rituais, além de outros vários programas devotados ao cultivo espiritual de seus fiéis.

Portanto, além de irresponsável e inoportuno, esse dispositivo da lei aprovada ontem na Câmara Municipal de João Pessoa é inconstitucional. Oxalá o prefeito da capital ouça um de seus maiores opositores na CMJP, consulte a Constituição Federal e use a sua prerrogativa de veto para derrubar essa excrescência.

Quando tudo o que precisamos nesse momento gravíssimo em que vivemos a maior crise sanitária da história do nosso país é aprofundar o distanciamento social, alargar o conceito de "atividades essenciais" para atender, sabe-se lá a quais interesses, é um ato irresponsável, oportunista e hipócrita. Representa, como disse Marcos Henriques ao Blog, "um movimento negacionista enrustido" entre os(as) nobres edis da capital.

Parabéns ao vereador Marcos Henriques pela coragem e coerência em nadar contra essa corrente. O povo de João Pessoa agradece.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Segue em paz, companheiro

 

Faleceu hoje Luiz de Souza Júnior, professor da UFPB e militante do Partido dos Trabalhadores da Paraíba, mais uma vítima dessa triste tragédia que vivemos, a Covid-19, contra a qual ele lutou - como o guerreiro que sempre foi - por sessenta longos dias de hospitalização. 

Conheci Luiz Júnior quando ele era chefe de gabinete do reitor Rômulo Polari na UFPB e eu pró-reitor de Projetos Estratégicos da UFCG, ocasião em que nós coordenávamos os projetos de expansão de nossas Instituições no âmbito do Plano de Expansão das Universidades Federais, lançado pelo governo Lula em 2004. Compartilhamos muitas ideias, angústias e alegrias no desempenho dessa missão desafiadora e a UFPB deve a Luiz Júnior o seu Campus IV, situado em Mamanguape e Rio Tinto. Seria justo homenageá-lo dando o seu nome àquele centro de formação.

Pessoa extremamente afável, porém franco, sincero e objetivo, Luiz Júnior era um verdadeiro gentlemanGraduado em Ciências Econômicas pela UFPB e Mestre e Doutor em Educação pela UFPB e USP, o professor Luiz Júnior foi secretário de Educação da capital, coordenador de programas profissionais da Área de Educação da CAPES, conselheiro do Conselho Estadual de Educação do Estado da Paraíba e presidente do Diretório Municipal do  PT de João Pessoa.

A Paraíba perde um grande homem e o campo democrático-popular do nosso Estado, tão carente de personalidades ínclitas como ele, deixa de contar com um militante sério, combativo e coerente.

Segue em paz, companheiro.

quarta-feira, 3 de março de 2021

terça-feira, 2 de março de 2021

UFCG: uma transição vergonhosa

 

A mais recente transição na reitoria da UFCG é uma vergonha. Depois de uma eleição limpa e muito  participativa em que a chapa que disputava a recondução aos cargos foi eleita, seguiram-se vários capítulos patéticos.

Não digo que seja o caso da elaboração da lista tríplice pelo Colegiado Pleno, que seguiu o rito legal, mas essa tal lista de três nomes a ser encaminhada para o presidente da República escolher qual ele desejar é, ela própria, patética. Esse dispositivo autoritário, que foi instituído pela ditadura militar através da famigerada reforma universitária de 1968 para controlar as universidades com mão de ferrodeveria ter sido extirpado da legislação depois que a Constituição de 1988 consagrou a autonomia universitária como princípio fundamental. Mas, Fernando Henrique Cardoso e o então ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, resolveram mantê-lo na Lei 9.192, de 1995, perpetuando esse rotundo mecanismo de ataque à autonomia universitária. O "príncipe da Sociologia" é um cínico: fala uma coisa e pratica outra. Para quem duvida, é bom lembrar que ele mandou todo mundo esquecer o que ele havia escrito antes de se tornar presidente da República...

Seja como for, Lula e Dilma sempre nomearam os mais votados pela comunidade universitária, prática que adotaram para todas as listas tríplices, inclusive para a Procuradoria Geral da República. Foram coerentes e republicanos. Optaram pela legitimidade democrática ao invés de se esconderem sob o manto da legalidade autoritária.

Ao contrário dos presidentes petistas, esse régulo que atende pelo nome de Jair Bolsonaro tem feito justamente o contrário: faz questão de não nomear os eleitos pela comunidade universitária. Já fez isso 20 vezes, todas em que teve a oportunidade de nomear reitores, como a dizer: "aqui quem manda sou eu". Típico desse traste ignaro que hoje ocupa o Palácio da Alvorada.

Foi essa postura que "seduziu" os professores John Kennedy Guedes e Marcus Vinícius Lia Fook, candidatos a reitor e vice que ficaram em segundo lugar numa eleição em que se apresentaram à comunidade universitária como "candidatos de esquerda" e assinaram um documento em que se comprometiam a não assumirem os cargos caso não vencessem a eleição. Tudo mentira, oportunismo puro. Demonstrando uma falta de caráter espantosa e uma estupidez monumental, esses dois farsantes enviaram um vídeo estulto e sabujo ao presidente da República mendigando a nomeação. 

Mais patético do que isso, só mesmo a nomeação dos professores Antônio Fernandes Filho e Mario Eduardo Rangel Moreira Cavalcanti-Mata, que obtiveram menos de 20% dos votos.

Entretanto, essa ópera-bufa não terminou aí. Nomeados no dia 23 de fevereiro, Antônio e Mario não se dignaram a procurar o reitor em exercício para o estabelecimento de uma transição que não traga solução de continuidade aos inúmeros processos didático-científicos, administrativos e de gestão financeira e patrimonial da universidade. Fecharam-se em copas, sabe-se lá porque. 

Isso levou o ex-reitor e o reitor em exercício a emitirem a nota que reproduzo acima, o que deu azo a mais um capítulo patético nessa novela de quinta categoria. No dia posterior, às 7h35, como a querer escapar do vexame, Antônio correu a protocolar um requerimento no sistema eletrônico de informações da UFCG (Processo SEI nº 23096.009918/2021-31) solicitando uma data para iniciar o processo de transição, mas, às 8h50, ele cancelou o requerimento e o substituiu por outro, que também seria cancelado às 9h29, quando finalmente ele protocolou o documento em sua forma final. Ufa, nem Os Trapalhões fariam melhor...

O que Antônio e Mário deveriam fazer era renunciar aos cargos que vão ocupar de maneira espúria, contra a vontade da comunidade universitária. Assim, eles respeitariam o processo de escolha democrática a que se submeteram e honrariam a tradição republicana de nossa Instituição. Mas, atos nobres não têm lugar na Bolsolândia.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Porque Bolsonaro ama a pandemia


É inacreditável que um presidente da República possa agir de maneira tão vil diante da morte de milhares e do sofrimento de milhões de cidadãos e cidadãs sob o seu governo, como Bolsonaro vem fazendo desde o início da pandemia do covid-19. Negação, omissão, desídia, indiferença, desinformação, sabotagem, chacota e transferência de responsabilidade: é isso que ele faz e promove no contexto da maior crise sanitária da história da Brasil, que já ceifou mais de 255 mil vidas.

É inacreditável, mas é explicável. 

Em primeiro lugar, todo fascista é um necrófilo. Sente prazer com a morte e o sofrimento do outro. Tem orgasmo ao torturar e matar. Não há como esperar um mínimo de empatia e humanidade de um sujeito cujo herói é o coronel Brilhante Ustra, o monstro sádico que na ditadura militar chefiou o DOI-Codi - o "quartel-general" da tortura - e que tinha como prática estuprar e inserir ratos vivos na vagina de suas vítimas, entre outras barbaridades. Esse mesmo sujeito, hoje presidente da República, que disse que a ditadura militar "deveria ter matado uns 30 mil" no Brasil. Jair Bolsonaro é um fascista, ele cultua a morte, por isso ama a pandemia.

Mas, há algo além de deficiência de caráter nessa tara bolsonariana. Sua postura nefanda tem alguma coisa de estratégia. Embora a pandemia afete pessoas de todas as idades e classes sociais, a mortalidade é infinitamente maior entre os pobres e os idosos, como se sabe. Pessoas que, na visão de neoliberais fanáticos como ele, são tão-somente "pesos mortos" para o país: melhor que morram mesmo, o quanto antes, pois assim, eles ajudam no "equilíbrio das contas públicas", no "ajuste fiscal" e a resolver os (alegados) problemas de caixa da previdência social. Por seu pragmatismo patológico, Bolsonaro ama a pandemia.

O presidente mais preguiçoso e incapaz que este país já teve também ama a covid-19 por interesses eleitoreiros. Por um lado, enquanto houver pandemia, Bolsonaro vai se eximindo de sua própria incúria administrativa e incompetência em governar, pois tudo será culpa dela. Ou dos governadores, ou dos prefeitos, ou do fórum de São Paulo, ou do diabo que o carregue. Por outro lado, Bolsonaro alimenta as hordas de imbecis teleguiados que o seguem com as suas diatribes negacionistas e obscurantistas que, espalhadas pelas redes sociais por robôs e gentes, ajudam a manter os seus inacreditáveis 30% de popularidade. Para quem acreditou em kit gay e mamadeira de piroca, tudo é possível. Afinal de contas, o homem é um mito...

Pode haver, ainda, interesses mais venais naquela personalidade doentia. Como um negociante vulgar, o ex-deputado que enriqueceu a si e aos filhos com "rachadinhas" y otras cosítas más, pode ter visto uma "oportunidade" na crise, mesmo sendo ela das mais lúgubres. Não sei não, mas essa coisa de "prescrever" e propagandear insistentemente remédios contraindicados por médicos e cientistas, que explodiram em vendas da noite para o dia, me cheira a jabá. E ele, como um dos mais proeminentes espécimes do baixo clero da política nacional, adora um jabá. Sabe-se lá o que pode urdir aquela mente insana. A conferir...

Finalmente, mas não menos importante, embora Bolsonaro combata o isolamento social e não se canse de promover aglomerações, ele sabe que o campo democrático-popular respeita a ciência e a vida e, por responsabilidade, empatia e coerência, suas lideranças não vão promover manifestações de rua, que seriam o único meio para desgastá-lo, isolá-lo e - quem sabe? - impedi-lo de seguir governando o país como um psicopata sanguinário. Também por isso, Bolsonaro ama a pandemia e abomina a vacina (para os outros).

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O Brasil será o pária do Mundo?


Há poucos meses, o beócio Ernesto Araújo, considerado o pior diplomata do Mundo, esbravejou numa formatura de novos diplomatas: "que sejamos pária!". No mesmo grotesco discurso, o obtuso chanceler disse ainda que a "estratégia marxista" é transformar em "ismos" qualquer tipo de assunto e que a pandemia da covid-19 seria um exemplo disso, pois ela teria virado um "covidismo".

O ministro negacionista atirou no que viu e acertou no que não viu. Querendo ideologizar uma questão de saúde pública para justificar a desídia com a qual o governo Bolsonaro trata a maior crise sanitária vivida pelo país nos últimos cem anos, esse ser minúsculo fez um profecia sinistra: o Brasil corre o risco de se tornar um pária não por ser dominado pela "estratégia marxista" (dá para acreditar?), mas por estar submetido à estratégia genocida do governo ao qual ele serve com fidelidade canina.

Senão, vejamos. Os gráficos reproduzidos acima, extraídos do site Worldometers, expressam as médias móveis de óbitos pela covid-19 nos nove países com o maior número de casos até o dia 24/02/2021. A amostra é bastante representativa, pois envolve países desenvolvidos e em desenvolvimento, grandes e pequenos, situados nos dois hemisférios terrestres e em três continentes diferentes. E o que se observa é que o Brasil é o único país com uma curva ascendente de óbitos atualmente. Não é a Índia - país com a segunda maior população do planeta (1,5 bilhão de habitantes) e 131º na escala do IDH - nem a Turquia - nação pobre, dividida por várias etnias e em constante conflito com os países vizinhos - nem a imensa Rússia, o maior país do Mundo, nem as nações da Europa, com populações muito mais envelhecidas que a brasileira, nem mesmo os Estados Unidos, o "campeão" em casos e mortes provocadas pela pandemia.

É o Brasil o único país entre os mais afetados pelo coronavírus no Mundo em que o número de mortes vem aumentando. O Brasil, que tem o SUS, um dos maiores, senão o maior sistema público de atenção à saúde do Mundo, capilarizado nos 5.570 municípios do país. O Brasil, que tem um histórico invejável de campanhas públicas de vacinação e que tem condições de vacinar 2 milhões de pessoas por dia, segundo o renomado médico Gonzalo Vecina Neto. O Brasil, que tem a Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto Butantan e indústrias farmacêuticas plenamente capazes de produzir vacinas para suprir essa demanda. O Brasil, que em 2010 conseguiu vacinar 92 milhões de pessoas contra o H1N1 em apenas três meses e foi o país que mais vacinou em relação ao percentual da população total em todo o Mundo.

Não vou aqui desfiar as causas pelas quais o nosso povo sofre e perece sob a covid-19. Elas são de conhecimento público e se explicitam na profecia involuntária do chanceler beócio e na conduta do pior presidente da República que esse país já teve em tempos democráticos (os generais da ditadura militar são imbatíveis).

A seguir nesse passo em que estamos no enfrentamento à covid-19, quando os demais países estiverem com a pandemia sob controle e com suas economias se recuperando, ainda estaremos com os nossos hospitais lotados, as pessoas sofrendo à espera de um leito, as famílias chorando os seus mortos, nós todos em quarentena em nossas casas e a crise econômica se aguçando dia-a-dia. Nenhum país aceitará a entrada de brasileiros em seus territórios e nem permitirá que seus cidadãos para aqui se dirijam. Estaremos isolados. O Brasil será o pária do Mundo. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O Falcão e a Rainha da Borborema, por Carlos Andrade


Por Carlos Andrade*

Após quinze dias de iniciado o horário de propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV e de muita movimentação nas redes sociais, o eleitorado da cidade de Campina Grande-PB ainda não tem uma definição sobre em quem vai votar para prefeito. É o que se pode inferir do resultado da pesquisa de intenção de voto para Prefeito de Campina Grande-PB, realizada pelo Instituto Opinião.

Segundo reportagem do blog de notícias MaisPB (aqui), as entrevistas foram realizadas entre os dias 22 e 23 de outubro do corrente, a vinte e cinco dias das eleições. Abrangendo uma amostra de 600 respondentes, considerando um intervalo de confiança de 95% e uma margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. Os resultados, apresentados na forma de gráficos, exaltam a liderança do candidato do atual prefeito, porém uma outra narrativa pode ser inferida. Considerando as respostas estimuladas e espontâneas, os candidatos Bruno Cunha Lima e Inácio Falcão mantém uma distância muito semelhante, na disputa pela primeira colocação. Na espontânea estão separados por 18 pontos percentuais e na estimulada por 20 pontos percentuais (lembrar que a margem de erro da pesquisa é de quatro pontos percentuais). Na segunda colocação vislumbra-se um empate técnico entre Inácio Falcão e a candidata Ana Cláudia. Os demais três candidatos somam 8,3% na estimulada e na espontânea apenas Olímpio Rocha aparece com 1%. 

O fato essencial para a estratégia eleitoral dos candidatos com estes resultados é o que mostram os percentuais de “Branco/Nulo/Nenhum” e “Indeciso/Não sabe”. Agregando estas categorias numa categoria chamada indefinidos, verifica-se que nas respostas estimuladas o percentual chega a aproximadamente 25% da amostra, ou um quarto do eleitorado. Considerando as respostas espontâneas, observa-se cerca de 45% de indefinidos, sendo um terço (33%) de “Indeciso/Não sabe”. Na questão sobre rejeição verifica-se um pouco mais de um terço (33,7%) de “Indeciso/Não sabe”. Desta forma, pode-se inferir que, pelo menos, um terço do eleitorado ainda está indefinido quanto ao seu voto. 

Neste cenário, pode-se imaginar que, para ganhar a eleição no primeiro turno, o candidato do atual prefeito teria que absorver os votos dos “Indecisos/Não sabe” (37,2% + 13% = 50,2%) ou os votos de Ana Cláudia (12,5%) mais alguns indecisos. Esta conjectura não é estranha ao histórico das disputas eleitorais da Paraíba e especialmente em Campina Grande. Os dois candidatos representam as três oligarquias familiares que dominam a administração da cidade por mais de trinta anos, de perfil conservador com verniz modernizante. Nesta campanha, declaradamente bolsonaristas.

O candidato Inácio Falcão surge como alternativa viável de mudança na gestão da cidade. Experiente político com autêntica personalidade popular, tem anos de trabalho social junto à população de precarizados e vulneráveis do município. Compondo uma chapa de frente ampla democrática aglomera em torno de si forças que propugnam por reais mudanças em favor do povo campinense.

Conclusão: o cenário que se desenha mais desafiante seria a ocorrência de uma aliança entre as oligarquias locais (muito factível) juntando Bruno Cunha Lima e Ana Cláudia frente à campanha de Inácio Falcão, que teria de brigar por votos dos indecisos. Emocionante desfecho.

(*) Carlos Andrade é Economista, Professor aposentado da UFCG e Dirigente Municipal do PT de Campina Grande.

Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Blog

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O PT e as eleições de 2020, por José Guimarães

 

O PT tem sido alvo de críticas em relação a sua participação nas eleições, processo totalmente em aberto até o momento. Fazer projeções agora só pode ser por maldade. Tem havido críticas injustas às esquerdas, em especial ao PT.

A realidade desmente tese que tem sido difundida a respeito de suposto “isolamento do PT” no processo eleitoral atual ou de “resistência” do partido a alianças. O PT disputa as eleições nos maiores centros políticos do País. Em três  capitais tem alianças com o Psol, em outras três com o PCdoB, em cinco outras com a Rede e em duas com o PSB.

Em todo o País, o PT apoia 173 candidatos do PDT, que apoia petistas em 134 cidades. O PT apoia 140 candidaturas do PSB, que por sua vez apoia 117 do PT. O PCdoB recebe apoio do PT em 45 localidades e dá apoio a petistas em 152 cidades. O PT apoia candidatos do Psol em 16 cidades e recebe apoio do partido em 50. Já a Rede tem o apoio do PT em 13 cidades e dá apoio a candidaturas petistas em 29 localidades.

As alianças comprovam a firme disposição do PT para fortalecer as forças democráticas antibolsonaristas na resistência ao autoritarismo e aos retrocessos patrocinados pelo governo atual em todas as áreas. De todo modo, é importante salientar que, com o fim das coligações e com a cláusula de barreira, é de vital importância aos partidos o lançamento de candidaturas próprias para a divulgação de seus programas.

O PT vive um quadro bastante diferente de 2016, quando foi alvo de um golpe de Estado e das perseguições da Lava Jato. Tem hoje em torno de 1.500 candidaturas às prefeituras registradas no Tribunal Superior Eleitoral e cerca de 29 mil candidatos a vereadores e vereadoras em todo o País. O PT está num processo de reconquista do eleitorado.

A presença do PT é valorizada porque o povo brasileiro conhece o legado dos governos petistas (2003 até o golpe de 2016).

 Quem não valoriza a política ou os políticos e fala sobre antipetismo comete dois erros. Primeiro, é pela política que podemos resolver democraticamente os problemas da sociedade, como constataram os gregos há mais de 2 mil anos. Em relação ao antipetismo, é uma falácia. Basta dizer que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o principal transferidor de votos no País, inclusive em São Paulo, a despeito da perseguição política, midiática e judicial de que foi vítima.

As eleições de 2020 abrem um processo de disputa política com alianças que pavimentam caminho para a reconquista do governo central em 2022, por forças progressistas que coloquem o Brasil nos trilhos antes que seja destruído pelo atual governo.

A frente democrática se constrói nas alianças com partidos progressistas nas eleições municipais e na resistência no Congresso Nacional à agenda conservadora e supressora de direitos do atual governo. 

José Guimarães é deputado federal (PT-CE) e coordenador nacional do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do partido.