domingo, 25 de abril de 2010

Ciro e o vírus da vaidade

Bela análise do Eduardo Guimarães sobre o "esperneio" de Ciro Gomes, como ele mesmo diz. A esquerda brasileira parece ter perdido noção da tática fundamental do progressismo: abrir mão dos individualismos no enfrentamento da direita e de seus representantes, principalmente quando a conjuntura aponta, insofismavelmente, que um aliado histórico tem mais condições de se constituir na vanguarda da luta contra o retrocesso, o obscurantismo e o atraso, que é o que representa a candidatura demo-tucana.


Leia a análise postada no cidadania.com:

Desde que Lúcifer, o mais belo dos Querubins, deixou-se tomar pelo orgulho a ponto de não mais aceitar servir a Deus, nunca mais pararam de acontecer insurreições de coadjuvantes dos homens e mulheres que se tornaram protagonistas da epopéia humana por obra de seus dotes de liderança, artísticos ou intelectuais. E esses insurrectos sempre se deixaram mover pela vaidade.

Os menos inteligentes dirão que estou comparando Lula a Deus e Ciro Gomes ao Diabo agora que o socialista se posicionou de uma forma altamente danosa ao projeto político que integrou por tantos anos. Só a falta de inteligência e de imaginação pode levar alguém a uma conclusão como essa.

Mas Ciro, de fato, doente de vaidade não entendeu a diferença entre ele e o presidente da República, mesmo que este tenha chegado aonde aquele jamais conseguiu – e aonde, pelo visto, jamais conseguirá chegar – simplesmente porque não sabe esperar e porque se recusa a amadurecer.

Simpatizo com Ciro Gomes. É inteligente e franco, mas é muito vaidoso. E nem julgo que ser vaidoso seja um pecado irremissível simplesmente porque o vírus da vaidade nos afeta a todos. Contudo, temos que lutar contra ele.

Temos que saber quando nos cabe o papel de protagonistas ou quando tudo o que podemos fazer, para eventualmente um dia merecermos esse papel, é sabermos nos integrar a projetos que podem não ser os nossos projetos, mas que, por serem os melhores para todos, devem receber precedência.

Depois de se portar tão bem por tantos anos, apoiando e colaborando com a obra do governo Lula, uma obra mundialmente reconhecida e que conta com o apoio maciço daqueles aos quais beneficiou, Ciro me joga tudo fora num ato tresloucado, passando uma imagem de si à sociedade que, inclusive, não deve corresponder à verdade.

Foi um desastre aquela entrevista que Ciro deu ao SBT, na qual o âncora de telejornal Carlos Nascimento, um anti-Lula notório – aliás, como todos os seus pares –, babava na gravata pela oportunidade de arrancar ataques a Lula e a Dilma do até então aliado deles.

Segundos depois de Ciro dizer, na malfada entrevista que deu ao SBT, que uma só palavra errada dita por um político publicamente pode acabar com ele, e que, portanto, as palavras de homens públicos devem ser medidas, ele simplesmente me ataca o povo de São Paulo.

Virão dizer que faço a mesma coisa porque vivo criticando os paulistas. Mais falta de inteligência e de imaginação. Primeiro, porque sou paulista de São Paulo e não um paulista que construiu sua trajetória de vida em outro Estado; segundo, porque não sou candidato a nada.

Ficou feio demais Ciro elogiar Serra depois de tudo que disse dele, mesmo que, em seguida, o tenha atacado, mostrando uma bipolaridade incompatível com quem almeja uma posição como a que Lula exerceu com serenidade e de forma conciliadora e comedida, sabendo quando calar e quando falar graças ao seu instinto político insuperável.

sábado, 24 de abril de 2010

Bird vê 'avanços dramáticos' em redução da pobreza no Brasil

Apesar de ainda ter uma das mais altas taxas de desigualdade do mundo, o Brasil conseguiu avanços "dramáticos" em redução da pobreza e distribuição de renda, diz um relatório com indicadores de desenvolvimento divulgado nesta terça-feira pelo Banco Mundial (Bird).

"Enquanto as desigualdades de renda se agravaram na maioria dos países de renda média, o Brasil assistiu a avanços dramáticos tanto em redução da pobreza quanto em distribuição de renda", diz um trecho do documento.

"A desigualdade permanece entre as mais altas do mundo, mas os avanços recentes mostram que nem sempre o desenvolvimento precisa vir acompanhado de desigualdade", diz o texto sobre o Brasil.

Segundo os indicadores do Bird, a taxa de pobreza do Brasil caiu de 41% no início da década de 90 para entre 33% e 34% em 1995. Depois de se manter nesse nível até 2003, a taxa de pobreza apresentou declínio constante, caindo para 25,6% em 2006.

O documento diz que as taxas de pobreza extrema seguiram padrão semelhante, caindo de 14,5% em 2003 para 9,1% em 2006.

"A redução do número de pessoas vivendo na pobreza foi acompanhada por um declínio na desigualdade de renda", diz o relatório.

De acordo com o Bird, fatores como inflação baixa e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, tiveram papel importante nesse desempenho.

Outros indicadores

O relatório também destaca os avanços registrados pelo Brasil em outros indicadores sociais, como a redução da taxa de mortalidade infantil, que passou de 56 para 22 em cada mil no período entre 1990 e 2008, em parte devido a melhores índices de vacinação.

Segundo o documento, o Brasil registrou ainda uma rápida redução nos índices de trabalho infantil e aumentou os níveis de frequência escolar.

O relatório traz dados sobre o cumprimento das Metas do Milênio, estabelecidas pelas Nações Unidas em 2000. Elas preveem melhoras em vários indicadores até 2015.

De acordo com o Bird, dez anos depois do lançamento da iniciativa, o progresso tem sido desigual e somente pouco mais da metade dos países com dados disponíveis está no caminho para atingir as metas.

"Cerca de 41% das pessoas em nações de baixa e média renda vivem em países que não devem atingir as metas. E 12% vivem nos 60 países sobre os quais não há dados suficientes para medir o progresso", diz o relatório.

No entanto, segundo o Bird, houve progressos consideráveis nesses 10 anos e, apesar da crise econômica e financeira, "a meta de reduzir pela metade a proporção de pessoas vivendo na extrema pobreza ainda pode ser alcançada em diversas regiões em desenvolvimento".

A USINA DE BELO MONTE: MAIS UMA VITÓRIA DO MAIOR ESTADISTA DA HISTÓRIA DO BRASIL

Globo Online - Enquanto o mercado ainda estava atordoado com a vitória do consórcio Norte Energia na licitação da hidrelétrica de Belo Monte, na terça-feira, representantes das empreiteiras Camargo Corrêa e Odebrecht procuraram a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) informando interesse em aderir ao consórcio vencedor, como mostra reportagem de Eliane Oliveira e Gerson Camarotti, publicada na edição deste sábado, no GLOBO.

As maiores construtoras do país - que desistiram de entrar na disputa 15 dias antes do certame alegando que os parâmetros do edital eram inviáveis - foram o estopim da intervenção federal no leilão, com a formação orientada pela União de um segundo consórcio, que de azarão virou o dono da maior obra do Brasil.

As duas se anteciparam, mas não foram as únicas. A Andrade Gutierrez, que liderava o consórcio favorito, também procurou a Chesf para dizer que, ainda que só participe como contratada, mantém o interesse na obra. Terceira maior do país, a Andrade formou com a Camargo e a Odebrecht o trio de empreiteiras que fizeram o estudo para o projeto de Belo Monte.

Além das construtoras, Gerdau, CSN e Braskem procuraram a Chesf. A Vale, parceira da Andrade no grupo derrotado, também demonstrou interesse ao governo, apesar das restrições legais - a empresa só pode entrar após a assinatura do contrato de concessão. Ontem, as ações PN da Gerdau subiram 2,59%, depois de o presidente do Conselho de Administração da empresa, Jorge Gerdau Johannpeter, ter afirmado, num fórum empresarial na Bahia, que cogita entrar em Belo Monte.

- O jogo de xadrez começou e cada um já começa a movimentar suas peças. Mas a Chesf é a dona do jogo - disse uma fonte do governo.

Governo Lula deu mais um show de competência. As grandes empreiteiras tentaram chantagear o governo tentando nos convencer que era um mau negócio, conseguiram o apoio incondicional da imprensa, mas o governo não cedeu.

O resultado é que o leilão foi um sucesso, com deságio e ainda por cima agora todos querem aderir.

Mas a Chesf é a dona do jogo.

O artigo do Leonardo Attuch para a revista IstoÉ Dinheiro, reproduzido abaixo, descreve com precisão o jogo de xadrez desse leilão, apenas erra quando diz que "primeira vez em oito anos, o governo decidiu peitar o cartel das grandes empreiteiras". Não é verdade. Já peitou outras vezes, como nas concessões de estradas federais, nos leilões de Jirau e Santo Antônio, na Transposição. Em todos esses leilões as empreiteiras apostaram em um preço maio, ameaçando abandonar, mas acabaram por ceder ao jogo duro liderado pela Casa Civil. Triste foi a maior parte da imprensa apoiar o jogo do cartel, apenas para poder criticar o governo Lula mais uma vez.
Lula deu um basta

Luiz Inácio Lula da Silva é um homem livre. Já se elegeu presidente duas vezes, tem 83% de popularidade e não precisa mais prestar satisfações aos eternos doadores de campanha. Sua candidata talvez ainda necessite deles, mas Dilma é Dilma, Lula é Lula. E o que se viu em Brasília na semana passada, no leilão para a hidrelétrica de Belo Monte, foi notável. Pela primeira vez em oito anos, o governo decidiu peitar o cartel das grandes empreiteiras. Antes da disputa, dois consórcios estavam formados, mas isso não significava que haveria concorrência. O que estava combinado entre as construtoras, qualquer que fosse o resultado, era uma divisão da maior obra dos próximos anos, de quase R$ 20 bilhões, da seguinte forma: 25% para a Camargo Corrêa, 25% para a Odebrecht, 25% para a Andrade Gutierrez, 15% para a Queiroz Galvão e 10% para a OAS.

No meio do caminho, a Queiroz Galvão avaliou que merecia os mesmos 25% das construtoras maiores. E, articulada com a Chesf, uma das principais geradoras de energia do País, formou um novo grupo. Só que, às vésperas do leilão, a Queiroz também tentou impor suas próprias condições: ficaria no grupo, desde que levasse 80% das obras civis. Não obteve a garantia, que era imoral, quase uma chantagem, e pulou fora do consórcio. Foi o que bastou para que começasse a gritaria: “A tarifa é barata demais”, “Não vão entregar a obra”, e assim por diante. Alheio às pressões, o presidente apenas disse que, se as grandes empreiteiras não quiserem participar do projeto, azar. Belo Monte será construída pelo que Lula chamou de “barrageiras dos novos tempos”.

Capacidade de construir hidrelétricas é o que não falta no Brasil, um país que já ergueu Furnas, Itaipu e muitas outras barragens. E se em Belo Monte o preço será menor, tanto melhor. Aliás, a tarifa caiu justamente porque o governo definiu que a taxa de retorno do projeto deveria ser de 8% ao ano, e não de 12%, como queriam as empreiteiras. Uma remuneração de 8%, acima da inflação, já é satisfatória em qualquer país civilizado – e não há razão para que seja diferente no Brasil.

Depois da choradeira das construtoras, também passaram a dizer que uma eventual entrada dos fundos de pensão em Belo Monte significaria a estatização do projeto. Mais uma grande bobagem. Os fundos, embora sejam ligados a empresas estatais, são entidades privadas, que pertencem a seus funcionários. E que têm a obrigação atuarial de entregar um retorno de 5,5% ao ano, acima da inflação, aos seus cotistas. Entrar em algo com ganho estável de 8%, e duração de 30 anos, representa um baita filé. O fato é que o Brasil necessita da energia de Belo Monte para crescer – e pode muito bem dispensar um cartel de empreiteiras.
http://www.aleporto.com.br/blog.php?tema=6&post=2481

domingo, 18 de abril de 2010

Entenda a Representação do MSM

Após a publicação deste post, passarei o domingo trabalhando na representação que o Movimento dos Sem Mídia irá protocolar no Ministério Público Eleitoral na semana que entra (vide post anterior), na qual pedirá investigação sobre as pesquisas eleitorais.

Haverá uma divisão de tarefas entre o diretor-jurídico da ONG, o dr. Donizeti, e este que escreve. A parte fática (descrição dos fatos que motivam a peça) ficará a meu cargo, enquanto que caberá ao advogado dar forma jurídica ao texto.

Pretendemos protocolar a representação até terça-feira, no máximo.

Apesar do longo trabalho que tenho pela frente, decidi escrever este post porque parte dos leitores não compreendeu meus motivos para ter decidido pedir à Justiça que intervenha em um processo que considero danoso não a esta ou àquela candidatura, mas à democracia.

Em primeiro lugar, temos que entender e aceitar que nenhuma pessoa honesta pode afirmar, com cem por cento de certeza, qual ou quais dos quatro mais importantes institutos de pesquisa que atuam no Brasil (Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi) diz ou dizem a verdade.

Só o que se pode afirmar sem sombra de dúvida é que ao menos um deles está mentindo descaradamente, de uma forma que julgo criminosa. Porque não é possível que pesquisas feitas com intervalo de algumas semanas apresentem resultados tão diferentes.

Ultimamente, a mídia passou a divulgar largamente, através de artigos, reportagens e editoriais, que pesquisas não devem ser comparadas quanto a números crus e, sim, quanto às tendências que se revelam entre a divulgação de cada sondagem do mesmo instituto.

Nos gráficos abaixo, comparo as sondagens de quatro institutos desde o fim do ano passado. O cenário de candidatos escolhido foi o que tem sido mais destacado pela mídia, envolvendo os pré-candidatos do PT e do PSDB mais Ciro Gomes e Marina Silva, sendo que os dois últimos não aparecem no estudo para facilitar sua compreensão.


Ibope


Sensus


Vox Populi


Datafolha


O que estes gráficos revelam – não só pelos critérios sobre tendências amplamente expostos pela mídia, mas também por conta de matérias acusatórias lançadas pelo jornal Folha de São Paulo, dono do Datafolha, contra os institutos Sensus e Vox Populi, de que teriam fraudado seus números – é que um ou mais desses institutos está ou estão mentindo.

A tendência revelada pelo Datafolha diverge de Ibope, Sensus e Vox Populi, como mostram os gráficos. E mesmo que na próxima pesquisa Ibope, a ser divulgada nos próximos dias, os números se aproximem dos do Datafolha, haverá divergência de dois institutos contra outros dois.

Não é possível que um ou dois institutos mostrem Serra subindo e Dilma estagnada ou caindo e dois ou três mostrem o contrário em espaço tão curto de tempo – no caso de Datafolha e Sensus, no espaço de uma semana.

É aqui que quero dar uma explicação.

Alguns leitores recomendaram-me que não mexa nisso, que não faça representação nenhuma, porque a Justiça seria “tucana” e, assim, acabaria prejudicando o PT e referendando o Datafolha.

Será que se referem à mesma Justiça que cassou governador e prefeito da coalizão de Serra e pôs na cadeia seu mais cotado candidato a vice?

Acho que uma das poucas instituições que estão funcionando na política brasileira tem sido a Justiça, sobretudo a Justiça Eleitoral, que tem agido com total isenção, multando Lula ou cassando Cassio Cunha Lima e Gilberto Kassab e prendendo José Roberto Arruda.

Além disso, não acho que importa, aos verdadeiros democratas, qual dos institutos está mentindo e, sim, se algum deles mente. Se forem Sensus e Vox Populi, por exemplo, acho inaceitável, mesmo que suas supostas fraudes beneficiem a facção política que apóio.

Não quero “vencer” uma eleição por meio de fraudes como essa. Quero “ganhar” ou “perder” de forma limpa, digna, honrada, justa e democrática, pois um país só avança quando esses valores prevalecem também na mentalidade dos atores políticos que somos todos nós, candidatos, mídia e eleitores.

Este blog se chama Cidadania, não politicagem. Foi criado para estimular as pessoas a abandonarem essa nefasta mania do brasileiro de deixar tudo para lá, de conviver com o que está errado por puro comodismo, estimulando-as a ficarem sempre do lado mais justo seja ele qual for.

Esta tem sido minha luta aqui, ainda que alguém possa pensar outra coisa. Não trabalho para políticos, mas para o Brasil.

Agora, deixo-os com estes esclarecimentos e vou trabalhar pela democracia brasileira durante o resto do domingo compondo a peça que o MSM apresentará à Justiça Eleitoral na semana que entra, doa a quem doer.



Escrito por Eduardo Guimarães às 10h28