Em
junho de 2009, o governo do Estado anunciou o realinhamento do orçamento
e reduziu em 17 milhões de reais a dotação da UEPB. O secretário de
Planejamento, em entrevista à imprensa, declarou que “esse recurso fica
contingenciado, ela não vai perder um Real... até o final do ano, ela terá de
volta”. A reação foi rápida: Reitoria, Assembleia Legislativa do Estado, Câmara
de Vereadores de Campina Grande, Sindicatos de professores e funcionários,
diretório e centros acadêmicos, com repercussões em todos os setores da
imprensa anti-maranhista. Ao perceber o estrago político, o governador decidiu
rever o corte e, posteriormente, o secretário Ademir Melo foi substituído.
Mas, em 24 de agosto de 2010, em plena campanha
eleitoral, ao participar do ciclo de debates com os candidatos a governador
pela Associação Comercial de Campina Grande, o candidato José Maranhão
declarou: “eu acho que é inteiramente viável fazer a federalização da UEPB...”.
Dois dias depois, no mesmo palanque, o candidato Ricardo Coutinho detonou:
“Maranhão, desde sempre, tentou se livrar da UEPB... é um governo que não
compreende a importância de se ter uma universidade estadual... uma postura de
tentar a todo momento... combater a autonomia... ou então se livrar dela”,
hipotecando ainda “apoio ao manifesto publicado ontem pela Associação dos
Docentes da UEPB”. Desnecessário recordar que a comunidade universitária se
consolidou como o maior cabo eleitoral do candidato Ricardo, depois do ex-governador
Cássio, claro. A principal faixa de rejeição e resistência ao candidato
Maranhão espraiava-se nas camadas médias e entre os eleitores de nível
educacional superior. A imagem de
“inimigo de Campina” foi cristalizada. Enquanto em João Pessoa Ricardo Coutinho
teve 59,4%, em Campina alcançou 64,2% dos votos válidos!
Voto é uma decisão que gera consequências. Desde 2011,
jogando seu discurso campinense na lata do lixo, o governador Ricardo vem
contingenciando as transferências orçamentárias para a UEPB : quase dez vezes
mais do que a tentativa do governador Maranhão no longínquo ano de 2009. Agora,
os golpes finais contra a Autonomia Universitária: a redução dos níveis de
repasse (comprometendo o processo continuado de expansão da Universidade) e o
comando das contas correntes (estabelecendo o controle financeiro sobre as
ações da Direção da UEPB). A reitora Marlene sintetizou, de forma pragmática e
conceitual, a nova realidade: “Hoje vivemos a mercê da vontade do governador,
ele manda quanto quer e como quer”! E ainda: “foi rasgada a Lei de Autonomia da
UEPB”!.
Para além da
revisão-agora-do conceito de “autonomia” externada pelo governador nas suas
twittadas, o jornalista Arimateia Sousa, em sua coluna “Aparte”, desta
quarta-feira, constatou que “as pretensões políticas (de) Marlene têm imposto à
instituição... um desvirtuamento de seu projeto acadêmico”. E acusa de
partidarização com “a desmedida entronização da militância do PC do B nas
decisões e na estrutura da UEPB”. A crítica vai além, e há acusações quanto à
cooptação de lideranças eleitorais e até lança suspeição sobre o processo
sucessório universitário.
Antes de mais nada, duas preliminares precisam ser
destacadas. Primeiro, o governador Coutinho refugou o seu próprio discurso de
campanha e traiu quem lhe apoiou por conta dele. Segundo, a Autonomia
Universitária foi ferida no seu essencial. Isto posto, como ativista e como
observador da cena política campinense, creio que há fundamentos de verdade nas
críticas da coluna “Aparte”.
Mas a crítica à partidarização política e à
instrumentalização eleitoral só tem validade agora? Só é válida contra o
pequeno PC do B?
Em 2004 e 2008 a partidarização e a instrumentalização
beneficiaram o PSDB. E em 2010 foi a vez do PSB se beneficiar.
As observações do jornalista
Arimateia, muito perspicazes, podem nos levar a refletir sobre o
aperfeiçoamento de mecanismos de controle extra-corporativos. Mas não podem nos
desviar do central neste momento: o exacerbado autoritarismo governamental
desta gestão que está quebrando a instituição da Autonomia.
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