domingo, 25 de julho de 2010

Projeto Balde Cheio

Dois fenômenos explicam a modernização da agricultura no país. Um, as pesquisas agropecuárias. Outro, as novas formas de gestão e de disseminação do conhecimento agr[icola – inclusive entre pequenos proprietários.

Hoje em dia, há um pequeno milagre acontecendo na bacia leiteira do Vale do Paraíba. E atende pelo nome de Balde Cheio.

O pai do programa é Artur Chinelatto, lotado no escritório da Embrapa de São Carlos. O projeto começou a ser implementado há doze anos, em algumas pequenas propriedades de Jaú, estado de São Paulo.

Hoje, abrange todo o país.

O objetivo é analisar os aspectos técnicos da produção leiteira e levar conhecimento ao produtor.

Trabalham em conjunto com o CAT e com órgãos de agriculturas em estados que se dispõem à colaboração. Em São Paulo não houve envolvimento da Secretaria da Agricultura e das Casas da Agricultura.

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O primeiro passo é identificar municípios leiteiros, formar um técnico que atuará em uma fazenda modelo – que servirá de exemplo às demais. A base da organização são regiões com dez municípios em média. Para cada região, indica-se um técnico que ficará sob treinamento por um técnico da Embrapa para, depois, se transformar em multiplicador de conhecimento.

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O aprimoramento é feito passo a passo porque depende fundamentalmente da tomada de consciência do pequeno fazendeiro..

Primeiro, ensina-se o pequeno fazendeiro a plantar cana e pasto. Mostram que, para o gado produzir mais leite, tem que se alimentar melhor. À medida que o produtor vai percebendo essas melhorias iniciais, como a vaca que aumentou a produção de 2 para 8 litros/dia, torna-se mais aberto a mudanças mais radicais.

O passo seguinte é convencê-lo a trocar o rebanho, vender as vacas ruins e comprar menos vacas, porém mais produtivas, capazes de dar 20 litros/dia de leite. Muitas vezes encontra-se resistência dos pequenos produtores, para quem as vacas são quase como parte da família.

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Em três ou quatro anos, a produção das pequenas propriedades consegue saltar de 50 para 400 litros/dia.

Ensina-se, então, o produtor a fazer seu fluxo de caixa, a calcular a quantidade de ração ótima para cada cabeça, o uso racional dos insumos. Muitos ainda recorrem ao papel. Mas seus filhos já são usuários de notebooks e da Internet e ajudam nos cálculos.

A maioria acaba se rendendo aos fatos. Conversei com um casal de São Paulo que decidiu produzir leite na região. Antes, tinham pastagem extensivas: 50 hectares para produzir 100 litros; agora, com 10 hectares tiram 500 litros/dia, o que permite um ganho líquido de até R$ 1.500,00 mensais.

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Esse processo está mudando a cara da região. A pastragem extensiva produzia erosão. Agora, os fazendeiros são ensinados a concentrar a produção em pequenos espaços e a recuperar as demais áreas, plantando na beira dos rios e recuperando pastagens.

Depois desse salto, estão aptos aos novos avanços, agora na área de irrigação.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

Haddad é mentor dos genéricos, diz Itamar Franco desmentindo Serra


Mineiramente, o ex-presidente Itamar Franco (PPS) entrou na polêmica sobre a paternidade dos medicamentos genéricos no Brasil. Em seu Twitter, o candidato ao Senado pela coligação “Somos Minas Gerais” postou: “presidenciáveis discutindo genéricos me trazem saudades de Jamil Haddad, amigo e guerreiro que criou o Decreto 793, em 5/04/93″.


Haddad foi ministro da Saúde da gestão Itamar Franco (dezembro 1992 a janeiro de 1995) e responsável pela publicação do decreto citado pelo ex-presidente. A colocação do político mineiro apimenta a discussão que já mobilizou os três principais candidatos à Presidência da República. O ex-governador José Serra (PSDB) traz para si a paternidade do programa, que abriu o mercado de produção de medicamentos, com a quebra de patentes, e consequente barateamento de preços.

Já a petista Dilma Rousseff, em consonância com Itamar, defende que Haddad foi o responsável pela criação do projeto. A última a entrar na discussão foi Marina Silva (PV). Para a presidenciável verde, anterior ao decreto de 1993 e à gestão de Serra no Ministério da Saúde (1998 a 2002) de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi o então deputado Eduardo Jorge o autor da Lei dos Genéricos, em 1991.

Itamar manda recados velados, ao querer “fazer jus” ao trabalho do ex-ministro Haddad. Aliados do ex-presidente entendem que ele não irá polemizar com o candidato tucano, mesmo não tendo ainda saído em campo para pedir votos para Serra. Apesar de estremecidos, os dois estão no mesmo barco, já que o PPS de Itamar e o PSDB são aliados nas disputas estaduais e ao Palácio do Planalto.

http://www.terra.com.br


quarta-feira, 21 de julho de 2010

O real da miséria e a miséria do Real


Na trajetória dos últimos 18 anos, só o governo Lula reduziu a pobreza de forma contínua e acentuada. Itamar e FHC tiveram, cada qual, apenas 1 ano de efetiva redução da pobreza: Itamar (que teve pouco mais de 2 anos de governo), em seu último ano (1994), e FHC, em seu primeiro ano (1995). Os números desmentem categoricamente a afirmação de que a miséria e as desigualdades no Brasil vêm caindo “desde o Plano Real”, como é comum encontrar inclusive entre analistas econômicos. O artigo é de Antônio Lassance.


Financial Times vê Brasil capaz de explorar pré-sal


Lula mostra ao mundo que o pré-sal é nosso

Ao contrário de O Globo que disse que o Brasil ia na “contramão do mundo” ao iniciar a exploração do pré-sal após o acidente da BP no Golfo do México, o conservador Financial Times fez ontem uma matéria correta, dizendo que o Brasil encara os riscos da operação e está muito mais preparado que os Estados Unidos para abrir uma nova província petroleira em águas profundas.

Mesmo com sua postura claramente antiestatal, em nenhum momento o Financial Times condena a exploração do pré-sal ou sugere que ela seja entregue às multinacionais do petróleo, e, de forma jornalisticamente responsável, aponta as vantagens brasileiras diante dos riscos.

“As regras brasileiras são geralmente vistas como mais severas que as dos Estados Unidos, onde o Serviço do Gerenciamento dos Minerais enfrentou críticas por permitir a autoregulação da indústria”, aponta o jornal inglês.

O Financial Times diz que o vazamento de óleo na Baía de Guanabara, no início de 2000, e o afundamento da P-36, em março de 2001, levaram a Petrobras a aprimorar seus procedimentos de segurança. “Ao contrário de muitos de seus pares grandes produtores de petróleo, a Petrobras manteve sua expertise de engenharia e exploração em águas profundas em casa, ao invés de terceirizar isso para outras empresas”, ressalta o jornal econômico, destacando uma diferença essencial da Petrobras para a BP.

“Esses recursos internos são de grande importância para intervenões rápidas em situações de emergência”, destaca Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobras, e grande conhecedor do setor de petróleo. Aliás, O Globo não ouviu ninguém da Petrobras em sua matéria que foi manchete de capa, condenando o Brasil por explorar o pré-sal quando EUA e Europa reduzem sua produção.

O Financial Times, por suas posições conservadoras e “pró-mercado”, faz suas ressalvas ao maior controle da Petrobras e da Petrosal sobre o óleo do pré-sal, mas é honesto em sua reportagem, inclusive já tratando de novas medidas anunciadas pela Agência Nacional do Petróleo após o acidente da BP.

O problema que o FT vê, pela ótica das empresas, é a incerteza que ronda a discutida compra pela BP, em março deste ano, por US$ 7 bilhões, de 10 blocos no pré-sal, que pertenciam a Devon Energy. A BP espera que a compra seja aprovada até o fim do ano, mas a ANP está revendo o negócio “com o Golfo do México em mente”.

Está aí uma boa pauta para O Globo acompanhar diante de sua “preocupação com o meio ambiente” após o acidente da BP. Que exigências serão feitas à empresa britânica? Será que ela poderá terceirizar a exploração como fez no Golfo do México? Que medidas de segurança ela passou a adotar após o recente acidente?

São apenas algumas perguntas que o jornal, com os profissionais que tem, poderá desenvolver muito melhor do que eu. A menos que sua preocupação ambiental seja seletiva e só aconteça em relação a petrobras.

www.tijolaco.com

    terça-feira, 8 de junho de 2010

    Crescimento do PIB no 1º trimestre é o maior desde 1996, diz IBGE


    Há quase três décadas o país não dava uma arrancada tão espetacular. Puxado pelos robustos saltos da indústria, pelo aumento dos investimentos e pela manutenção do intenso ritmo do consumo das famílias, os números do Produto Interno Bruto (PIB) referentes ao primeiro trimestre do ano mostram que o Brasil não só deixou a recessão para trás como deu o primeiro grande passo para consolidar em 2010 uma expansão próxima a 7%.

    Crescimento do PIB no 1º trimestre é o maior desde 1996, diz IBGE

    A economia brasileira cresceu 2,7% no primeiro trimestre deste ano, ante o trimestre anterior com ajuste sazonal, e 9% com relação ao mesmo período de 2009, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira. Segundo a gerente de contas Rebecca Pales, é a maior alta na comparação com o trimestre anterior desde 1996.

    A soma das riquezas geradas no País, o chamado Produto Interno Bruto (PIB), alcançou R$ 826,4 bilhões nos primeiros três meses do ano. No acumulado dos quatro últimos trimestres o PIB avançou 2,4%.

    "Olhando pela produção e demanda, todos cresceram. A indústria cresceu mais, ela que teve maior queda, nesse cenário foi a que mais cresceu. O consumo das famílias desacelerou, mas não chegou a ser negativo na crise. Ele cresceu 9,3%, a mesma taxa do terceiro trimestre de 2008, antes de todos os problemas da economia com o Lehman Brothers", afirmou Rebecca.

    A indústria foi destaque de alta, com 4,2% ante o quarto trimestre de 2009 e 14,6% frente ao mesmo período do ano passado. A agropecuária cresceu 2,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior e 5,1% na comparação anual. O setor de serviços se expandiu, respectivamente, 1,9% e 5,9%.

    A formação bruta de capital fixo - uma medida dos investimentos - avançou 7,4% na comparação trimestral e 26% na anual (maior ritmo da série), influenciado principalmente pela produção interna de máquinas e equipamentos.

    O resultado mostra que a retomada da economia nacional ficou mais consistente a partir de meados de 2009, quando o Brasil superou a fase mais aguda da crise financeira internacional deflagrada em setembro de 2008.

    Depois de entrar em recessão técnica em 2009, ao ficar dois trimestres seguidos no vermelho, a trajetória voltou ao terreno positivo e vem se mantendo desde então. A alta do PIB no primeiro trimestre de 2010 ameniza em parte o PIB negativo de 2009, que teve dois trimestres positivos e dois negativos, fechando em -0,2%.A expectativa para 2010 é a de crescimento forte, com as projeções que começaram em 5% já ultrapassando 6,5% em maio deste ano.

    sábado, 5 de junho de 2010

    Deu no El País: Reservas internacionais aumentaram mais de 600% no Governo Lula


    Para um dos mais respeitados jornais do Mundo, o espanhol El Pais, o recorde das reservas internacionais do Brasil, que nunca antes na história deste país atingiram 250 bilhões de dólares, deveu-se à política de compra de reservas do Governo Lula e não a qualquer "herança da política econômica de FHC" como proclama ainda a nossa mídia venal e como insistem alguns menos informados.

    O jornal completa: "Quando Lula chegou ao poder as reservas eram de apenas 40 bilhões de dólares, seis vezes menos do que hoje".

    Deu no EL PAIS.com

    Internacional

    Nuevo record histórico en las reservas internacionales de Brasil
    La cifra asciende a 250.000 millones de dólares, un 25% superior a la del año pasado
    JUAN ARIAS | Río de Janeiro 03/06/2010

    Si la economía es lo que cuenta a la hora de votar, no le será difícil al presidente Luiz Inácio Lula da Silva convencer a los brasileños para que voten por su candidata, la ex guerrillera, Dilma Rousseff. Hoy mismo ha sido comunicado oficialmente que las reservas internacionales brasileñas han alcanzado un nuevo record: 250.000 millones de dólares, una cantidad un 25% superior a la del año pasado.

    Lula, a los inversores: “Brasil ha aprendido a ser serio. Y es un camino sin retorno”

    La transformación de Dilma Rousseff

    Según el ministro de Economía, Guido Mantega, la reserva blinda al país contra todo tipo de posibles crisis internacionales, como se demostró en el último tsunami que hizo tambalearse a las economías del mundo y que en Brasil prácticamente pasó de largo.

    Casi el 90% de esas reservas internacionales están aplicadas en títulos del Gobierno americano, en diferentes bancos extranjeros y en el Fondo Monetario Internacional (FMI).

    Según los analistas, los 250.000 millones de dólares de reservas internacionales son más que suficientes para hacer frente a todos los compromisos externos del país, lo que hace que la economía de Brasil sea hoy acreedora en vez de deudora, en relación a otros paises.

    La política de compra de reservas comenzó en 2004, durante el primer Gobierno de Lula, pero fue ganando fuerza en los últimos tres años debido al aumento del flujo de dólares en el país. Cuando Lula llegó al poder las reservas eran sólo de 40.000 millones de dólares, seis veces menores que hoy.

    La oposición critica, sin embargo, que los ejecutivos de Lula han mantenido los intereses más altos del mundo, lo que, si por una parte ha hecho que ingentes cantidades de dólares entrasen en el país, al mismo tiempo han podido ser un freno para el crecimiento de la industria, así como la sobrevalorización del dólar han podido dañar a las exportaciones.

    Lo que los ciudadanos de a pie notan, no obstante, es que Brasil es hoy un país estable, seguro para invertir, con todas las cartas en regla para hacer frente a sus compromisos externos y blindado para las nuevas crisis que puedan llegar de más allá del Atlántico.

    segunda-feira, 31 de maio de 2010

    Lula Superstar

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    Da conservadora Revista Alemã Der Spiegel:

    "Com iniciativas sempre novas, o Presidente brasileiro conquista para seu país um peso cada vez maior no mundo. Seu golpe mais recente: convenceu os governantes do Irã de um acordo nuclear controverso – uma chance para evitar sanções e guerra?

    Quais foram os palavrões com que ele, na altura, foi chamado: ele seria um comunista, um proletário grosseiro, um bêbado. Mas isso já faz parte do passado. Paralelamente à ascensão da nova potência econômica, o Brasil, sua reputação aumentou de forma surpreendentemente rápida; para muitos, o Presidente brasileiro vale como o herói do Hemisfério Sul, como o contrapeso mais importante de Washington, Bruxelas e Pequim. A revista norte-americana “Time” foi um pouco mais longe, ao denominar-lhe, há duas semanas, o “líder político mais influente do mundo”, na frente de Barack Obama. Na sua pátria, ele já é considerado o futuro titular do Prêmio Nobel da Paz.

    Agora, esse Luiz Inácio da Silva, 64, cujo apelido é “Lula”, filho de analfabetos que cresceu em uma favela, lançou novamente um golpe de mestre político: durante uma maratona de negociações, fechou com o governo iraniano uma acordo nuclear. Na segunda-feira passada, ele apareceu em Teerã triunfante, lado o lado com o Primeiro-Ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan e o Presidente Mahmud Ahmadinejad. Todos os três estavam convictos de que a questão das sanções da ONU contra o Irã, motivadas pelo possível programa iraniano de armas nucleares, teria passado, com isso, a ser história. O mundo ocidental, que tanto insistiu na radicalização das medidas internacionais de punição, parecia surpreso e sem ação.

    O contra-ataque de Washington ocorreu já no dia seguinte, começando um novo capítulo do conflito iminente sobre o programa nuclear; Pequim, em particular, por muito tempo se opôs a uma atuação mais rígida. A Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, proclamou: “Em cooperação com a Rússia e a China, chegamos a um consenso sobre um projeto forte”. A planejada resolução sobre sanções será encaminhada para todos os membros do Conselho de Segurança da ONU – também para o Brasil e a Turquia. Atualmente, por um mandato de dois anos, esses dois países têm um assento não-permanente como membros eleitos nesse Conselho de 15 países, dos quais nove membros devem aprovar a resolução antes de poder entrar em vigor.

    De maneira explícita, Clinton agradeceu a Lula por seus “esforços honestos”. No entanto, podia-se notar que ela considerava a iniciativa como algo que somente atrapalhava: “Sanções rígidas serão a mensagem inequívoca transmitida para o Irã sobre o que esperamos deles”. Porém, será que a abordagem menos confrontadora de Lula do conflito acerca do programa nuclear não é mais promissora? Será que Lula Superstar, com a retaguarda coberta por um país da OTAN, a Turquia, se deixaria refrear tão facilmente?

    Quem conhece sua história, não apostaria nisso: esse homem sempre superou todos os obstáculos, contradizendo todas as probabilidades. Cedo, o pai abandonou a família, a mãe mudou com os oito
    filhos do Nordeste brasileiro para o Sul industrializado para ter, pelo menos, uma chance de sobreviver. Só aos dez anos, o pequenino aprendeu a escrever e ler. Como engraxate e vendedor de frutas, ajudou a sustentar a família. Trabalhava em uma fábrica de tintas. Lutava para obter uma vaga de aprendiz como metalúrgico. Tinha 25 anos quando faleceram sua mulher e o filho comum que ainda não havia nascido, porque a família não tinha os meios suficientes para pagar o tratamento médico.

    Ainda jovem, Lula virou militante político. Nos tempos da ditadura militar, organizou como sindicalista greves ilegais e, nos anos oitenta, várias vezes foi preso. Insatisfeito com a esquerda tradicional, ele fundou um partido próprio, o Partido dos Trabalhadores, que ele transformou, passo a passo, de um partido comunista em um partido social-democrata. Nas eleições presidenciais, sofreu três vezes uma derrota. No entanto, em 2002, conseguiu a vitória, com uma larga vantagem. Foram os pobres e miseráveis nesse país de contrastes econômicos extremos que depositaram sua esperança no líder proletário carismático. Os milionários já haviam abastecido seus jatos, temendo sua expropriação.

    Porém, quem esperava ou acreditava em uma revolução ficou surpreendido. Lula, após tomar posse, levou os membros do governo para uma favela, e atenuou, por intermédio de seu programa abrangente “Fome Zero”, a miséria dos desprivilegiados. E não assustou os mercados. Preços elevados de matérias-primas e uma política econômica moderada, baseada em investimentos do exterior, bem como em recursos nacionais de formação e aprendizagem, permitiram a Lula renovar, em 2006, seu mandato.

    Em dezembro, terminará o mandato de Lula, que não pode ser reeleito novamente. Do ponto de vista da política interna, ele fez muito bem seu dever de casa, construindo também a figura de sua possível sucessora no cargo. No entanto, o Presidente autoconfiante deixa seu legado mais nitidamente no ambiente da política externa: ele considera imprescindível conseguir para o Brasil, com seus 196 milhões de habitantes, um papel de grande potência mundial, conduzindo o país para um assento no Conselho de Segurança da ONU.

    Lula reconheceu que, na busca deste objetivo, deve manter boas relações com Washington, Londres e Moscou. Porém, reconheceu também que contatos estreitos com países como a China, a Índia, países do Oriente Médio e da África talvez sejam ainda mais importantes. Ele se vê como homem do “sul”, como líder dos pobres e excluídos. E ele, naturalmente, também observa o deslocamento do equilíbrio: no ano passado, a República Popular da China, pela primeira vez, superou os EUA como parceiro comercial mais importante do Brasil.

    Lula é o único governante de um país que se apresentou não apenas no exclusivo Fórum Econômico Mundial em Davos, mas também no Fórum Social Mundial, com posição crítica à globalização, em Porto Alegre. Sem parar, ele viaja pelo mundo, visitou 25 países somente na África, muitos na Ásia, na América Latina quase todos, sempre com uma comitiva empresarial ao lado. Está sempre proclamando sua crença em um mundo multipolar. E, sendo um orador muito carismático e um líder proletário “autêntico”, no mundo inteiro é saudado pelas massas como se fosse um pop-star. “I love this guy”, entusiasmou-se também, em 2009, o Presidente Barack Obama, por ocasião do encontro do G20 em Londres.

    Hoje, Obama não está mais tão seguro, de jeito nenhum, que Lula é o “cara”. Cada vez mais autoconfiante, o brasileiro se distancia da Washington, e procura às vezes até a confrontação. Por exemplo, no caso de Honduras.

    Historicamente, os EUA consideram a América Central o seu “quintal”. Por isso, ficaram muito surpresos quando Lula, no ano passado, ofereceu abrigo ao Presidente derrubado, Zelaya, na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa e exigiu o direito de participar da solução do conflito. Brasília negou-se a reconhecer o novo Chefe de Estado e desta maneira se posicionou claramente contra Obama.

    Em seguida, tudo aconteceu muito rápido. Lul viajou a Cuba, encontrou-se com Raúl e Fidel Castro e exigiu o fim imediato do embargo econômico americano. Lula comparou adversários do regime, que sofrem nas prisões de Havana, com criminosos comuns, o que deixou os anfitriões muito contentes. Lula também fez questão de aparecer em público com Hugo Chávez, que vive maldizendo Washington e censura cada vez mais a imprensa do país; na edição 20/2008 do Spiegel, Lula chamou o autocrata de “Melhor Presidente venezuelano dos últimos 100 anos”.

    Quando há alguns meses recebeu Ahmadinejad em Brasília, elogiou a sua vitória eleitoral supostamente regular e comparou a oposição persa com torcedores de futebol frustrados. O Brasil também não permitiria intervenções alheias no seu programa nuclear “naturalmente pacífico”, disse. Apesar da solidariedade demonstrada, muitos estavam céticos quando Lula partiu para Teerã para negociar um acordo nuclear com o Irã – os iranianos, nos últimos meses, demonstravam pouca disposição para um acordo. Durante uma coletiva em Moscou, Medvedev avaliou as chances de um acordo mediado pelo Brasil de no máximo 30%, enquanto Lula disse “eu vejo uma chance de 99%”. Apareceu, nessa ocasião, novamente o ego explícito do homem que veio de baixo. “Ele se considera um curador que pode operar milagres em causas na quais outros fracassaram”, diz Michael Shifter, especialista dos EUA em assuntos latino-americanos.

    Se depois de 17 horas de negociações em Teerã, realmente foi conquistado um êxito ou se o acordo é apenas “uma futilidade” (Frankfurter Allgemeine Zeitung) com a qual os iranianos espertalhões pretendem enganar o mundo mais uma vez, não ficou claro, somente há indícios. Em Viena, a AIEA comunicou cautelosamente que qualquer passo em direção a um acordo nuclear seria um progresso. Por determinação da ONU, os inspetores da AIEA são competentes para controlar instalações nucleares no mundo todo. Nos últimos tempos, encontraram cada vez mais indícios de um programa ilegal de armas nucleares do Irã e exigiram urgentemente que Teerã seja mais aberta à cooperação. Agora a conclusão dos especialistas de Viena, que nunca abandonaram as consultas com Teerã e que nunca insinuaram algo que não pudessem comprovar, será de grande peso. Que os iranianos pretendem comunicar o conteúdo do acordo à AIEA só “dentro de uma semana” é outro motivo para desconfiança.

    Governos ocidentais se manifestaram de maneira muito crítica no sentido de que a resolução da ONU, publicada por Clinton imediatamente após o acordo de Teerã, serviria também para acalmar os israelenses. Alguns membros do governo de linha dura de Benjamin Netanyahu reclamam abertamente do “compromisso podre”, e o Ministro do Comércio Benjamin Ben Elieser opina que Teerã pretende “novamente fazer o mundo todo de palhaço”.

    Uma avaliação bem interessante do documento Lula-Ahmadinejad-Erdogan foi feita pelo instituto americano ISIS, que sempre defendeu uma solução negociada e considera uma “opção militar” na questão nuclear iraniana impossível. Os especialistas nucleares independentes fazem uma relação detalhada de suas dúvidas e analisam os pontos fracos dos termos do acordo já conhecidos. Os iranianos assumem apenas o compromisso de transportar 1200 kg do seu urânio pouco enriquecido para a Turquia para receberem em troca combustível nuclear para o seu reator de pesquisas de Teerã. As dimensões são iguais às de um negócio proposto pela AIEA em outubro do ano passado, o que na época significaria expedir mais de 75% do urânio já produzido para o exterior e impossibilitar a construção de uma bomba atômica – uma medida para criar confiança, uma pausa para negociações. O acordo atual não considera que o Irã, por causa das novas centrífugas em Natanz, deve dispor atualmente de 2300 kg de urânio; quer dizer que o país pode permanecer com quase a metade da matéria prima para a bomba atômica e dispõe de suficiente material para uma “investida” em direção à arma nuclear.

    O acordo oferece, outrossim, uma via de escape decisiva. Aos governantes do Irã é concedido o direito de recuperar o urânio da Turquia se eles acharem que qualquer cláusula do contrato “não foi cumprida”. E o que é mais importante: o acordo não inclui o compromisso de terminar o enriquecimento de urânio – “nem sonhamos com isto”, disse um representante oficial. Mas é justamente isso que a ONU exige, já após três turnos de sanções, de maneira inequívoca. Lula não deve ligar muito para isto.

    Ele demonstrou que virou um fator indispensável no palco internacional. Na terça-feira, o Presidente do Brasil foi festejado por seus amigos durante a Cúpula América Latina – UE em Madri por causa do seu engajamento pela paz. A sua apresentação demonstrou algo como “vejam, o molusco tem muitos braços”. E ele demonstrou que sabe nadar no aquário dos tubarões grandes. Nos bastidores, Lula Superstar costuma contar como curou os diplomatas brasileiros da síndrome de vira-lata; assim ele denomina o profundo complexo de inferioridade que muitos dos seus compatriotas até pouco tempo atrás sentiam frente a americanos e europeus. Foi em 2003, na grande estréia internacional de Lula na cúpula do G-8 em Evian na França. Todos estavam sentados no Hotel do congresso e esperaram por George W. Bush. Quando este finalmente entrou no salão, todos levantaram, só Lula ficou sentado e mandou o seu Chanceler fazer o mesmo. “Eu não participo deste comportamento servil” disse o Presidente do Brasil. “Quando eu entrei, também ninguém levantou.”

    domingo, 25 de abril de 2010

    Ciro e o vírus da vaidade

    Bela análise do Eduardo Guimarães sobre o "esperneio" de Ciro Gomes, como ele mesmo diz. A esquerda brasileira parece ter perdido noção da tática fundamental do progressismo: abrir mão dos individualismos no enfrentamento da direita e de seus representantes, principalmente quando a conjuntura aponta, insofismavelmente, que um aliado histórico tem mais condições de se constituir na vanguarda da luta contra o retrocesso, o obscurantismo e o atraso, que é o que representa a candidatura demo-tucana.


    Leia a análise postada no cidadania.com:

    Desde que Lúcifer, o mais belo dos Querubins, deixou-se tomar pelo orgulho a ponto de não mais aceitar servir a Deus, nunca mais pararam de acontecer insurreições de coadjuvantes dos homens e mulheres que se tornaram protagonistas da epopéia humana por obra de seus dotes de liderança, artísticos ou intelectuais. E esses insurrectos sempre se deixaram mover pela vaidade.

    Os menos inteligentes dirão que estou comparando Lula a Deus e Ciro Gomes ao Diabo agora que o socialista se posicionou de uma forma altamente danosa ao projeto político que integrou por tantos anos. Só a falta de inteligência e de imaginação pode levar alguém a uma conclusão como essa.

    Mas Ciro, de fato, doente de vaidade não entendeu a diferença entre ele e o presidente da República, mesmo que este tenha chegado aonde aquele jamais conseguiu – e aonde, pelo visto, jamais conseguirá chegar – simplesmente porque não sabe esperar e porque se recusa a amadurecer.

    Simpatizo com Ciro Gomes. É inteligente e franco, mas é muito vaidoso. E nem julgo que ser vaidoso seja um pecado irremissível simplesmente porque o vírus da vaidade nos afeta a todos. Contudo, temos que lutar contra ele.

    Temos que saber quando nos cabe o papel de protagonistas ou quando tudo o que podemos fazer, para eventualmente um dia merecermos esse papel, é sabermos nos integrar a projetos que podem não ser os nossos projetos, mas que, por serem os melhores para todos, devem receber precedência.

    Depois de se portar tão bem por tantos anos, apoiando e colaborando com a obra do governo Lula, uma obra mundialmente reconhecida e que conta com o apoio maciço daqueles aos quais beneficiou, Ciro me joga tudo fora num ato tresloucado, passando uma imagem de si à sociedade que, inclusive, não deve corresponder à verdade.

    Foi um desastre aquela entrevista que Ciro deu ao SBT, na qual o âncora de telejornal Carlos Nascimento, um anti-Lula notório – aliás, como todos os seus pares –, babava na gravata pela oportunidade de arrancar ataques a Lula e a Dilma do até então aliado deles.

    Segundos depois de Ciro dizer, na malfada entrevista que deu ao SBT, que uma só palavra errada dita por um político publicamente pode acabar com ele, e que, portanto, as palavras de homens públicos devem ser medidas, ele simplesmente me ataca o povo de São Paulo.

    Virão dizer que faço a mesma coisa porque vivo criticando os paulistas. Mais falta de inteligência e de imaginação. Primeiro, porque sou paulista de São Paulo e não um paulista que construiu sua trajetória de vida em outro Estado; segundo, porque não sou candidato a nada.

    Ficou feio demais Ciro elogiar Serra depois de tudo que disse dele, mesmo que, em seguida, o tenha atacado, mostrando uma bipolaridade incompatível com quem almeja uma posição como a que Lula exerceu com serenidade e de forma conciliadora e comedida, sabendo quando calar e quando falar graças ao seu instinto político insuperável.

    sábado, 24 de abril de 2010

    Bird vê 'avanços dramáticos' em redução da pobreza no Brasil

    Apesar de ainda ter uma das mais altas taxas de desigualdade do mundo, o Brasil conseguiu avanços "dramáticos" em redução da pobreza e distribuição de renda, diz um relatório com indicadores de desenvolvimento divulgado nesta terça-feira pelo Banco Mundial (Bird).

    "Enquanto as desigualdades de renda se agravaram na maioria dos países de renda média, o Brasil assistiu a avanços dramáticos tanto em redução da pobreza quanto em distribuição de renda", diz um trecho do documento.

    "A desigualdade permanece entre as mais altas do mundo, mas os avanços recentes mostram que nem sempre o desenvolvimento precisa vir acompanhado de desigualdade", diz o texto sobre o Brasil.

    Segundo os indicadores do Bird, a taxa de pobreza do Brasil caiu de 41% no início da década de 90 para entre 33% e 34% em 1995. Depois de se manter nesse nível até 2003, a taxa de pobreza apresentou declínio constante, caindo para 25,6% em 2006.

    O documento diz que as taxas de pobreza extrema seguiram padrão semelhante, caindo de 14,5% em 2003 para 9,1% em 2006.

    "A redução do número de pessoas vivendo na pobreza foi acompanhada por um declínio na desigualdade de renda", diz o relatório.

    De acordo com o Bird, fatores como inflação baixa e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, tiveram papel importante nesse desempenho.

    Outros indicadores

    O relatório também destaca os avanços registrados pelo Brasil em outros indicadores sociais, como a redução da taxa de mortalidade infantil, que passou de 56 para 22 em cada mil no período entre 1990 e 2008, em parte devido a melhores índices de vacinação.

    Segundo o documento, o Brasil registrou ainda uma rápida redução nos índices de trabalho infantil e aumentou os níveis de frequência escolar.

    O relatório traz dados sobre o cumprimento das Metas do Milênio, estabelecidas pelas Nações Unidas em 2000. Elas preveem melhoras em vários indicadores até 2015.

    De acordo com o Bird, dez anos depois do lançamento da iniciativa, o progresso tem sido desigual e somente pouco mais da metade dos países com dados disponíveis está no caminho para atingir as metas.

    "Cerca de 41% das pessoas em nações de baixa e média renda vivem em países que não devem atingir as metas. E 12% vivem nos 60 países sobre os quais não há dados suficientes para medir o progresso", diz o relatório.

    No entanto, segundo o Bird, houve progressos consideráveis nesses 10 anos e, apesar da crise econômica e financeira, "a meta de reduzir pela metade a proporção de pessoas vivendo na extrema pobreza ainda pode ser alcançada em diversas regiões em desenvolvimento".