Discurso
proferido na Câmara Municipal de Campina Grande por ocasião da Sessão Solene em
homenagem ao sexagésimo aniversário de morte de Félix Araújo, realizada no dia
22 de agosto de 2013.
Excelentíssimo
Senhor vereador Nelson Gomes Filho, presidente da Câmara de Vereadores de
Campina Grande, em nome de quem cumprimento os nobres representantes do povo
campinense;
Excelentíssimo
Senhor senador Ivandro Cunha Lima, em nome de quem saúdo as autoridades
estaduais e federais que se fazem presentes nesta sessão solene;
Excelentíssimo
Senhor vereador Tovar Correia Lima, secretário-chefe de governo, em nome de
quem saúdo os componentes do Executivo Municipal;
Excelentíssima
Senhora Ida Steinmüller, presidenta do Instituto Histórico de Campina Grande,
em nome de quem cumprimento toda a sociedade campinense que aqui se faz
presente;
Excelentíssimo
Senhor professor José Mário da Silva, conferencista, a quem cumprimento pela
brilhante palestra proferida;
Estimados
familiares de Félix Araújo, prefeito Félix Araújo Filho, vereador Mário Araújo, ex-presidente desta Casa, jornalista Celino Neto, em nome de quem
saúdo também toda a imprensa que se faz presente nesta sessão solene.
Senhoras
e Senhores.
Bom
dia.
Em
função de compromisso de última hora, urgente e inadiável na capital do Estado,
enternecido, o prefeito Romero Rodrigues não pôde se fazer presente nesta
sessão solene e nos incumbiu de representa-lo, em nome do Executivo Municipal, para
nesta sessão solene homenagear o mais emblemático político campinense no
transcurso dos sessenta anos de sua trágica morte.
Confesso,
nobres vereadores, que, por um átimo, cheguei a pensar em transferir a outrem
esta missão recebida na noite de ontem, pois não sendo filho de Campina Grande,
me via sem condições de, em tão breve tempo, preparar um discurso à altura de
um dos seus mais queridos próceres.
Mas,
eu não poderia perder a oportunidade de subir a esta tribuna para render meu
preito a Félix de Araújo, patrono desta Casa, homem público que aprendi a
respeitar como uma referência da cidade que me acolheu e que hoje tenho a honra
de servir como secretário municipal.
Portanto,
peço-vos vênia para pronunciar esta modesta homenagem a tão grande homem,
rogando vossa complacência para com a singeleza deste texto, escoimado
escassamente, mas sinceramente composto.
Há
homens que vêm ao Mundo com uma única missão: oferecer sua vida à História. No
curto tempo em que convivem com seus contemporâneos, marcam de tal forma a sua
época, que se imortalizam, deixando ao futuro um perpétuo legado exemplar. São
personalidades prematuramente amadurecidas, como Alexandre da Macedônia e Félix
Araújo que, mortos aos 30 anos, ficariam marcados eternamente pelo epíteto de
Grandes.
São
homens que encarnam o espírito público com tamanha intensidade que,
tragicamente, desse espírito se tornam ícones. Personagens que se imortalizam
na tradição política e na memória coletiva de um povo para lembrar às gerações
sucedâneas que seu sacrifício não foi vão, pois a curta passagem pelo Mundo é
inversamente proporcional ao tamanho da hombridade que lhes pereniza a memória,
à qual agora faço singela menção.
Félix
Araújo nasceu em Cabaceiras a 22 de dezembro de 1922 e, adolescente, mudou para
Campina Grande de forma a continuar seus estudos, ingressando no Colégio
Diocesano Pio X. Aos 15 anos começou a escrever para o Jornal A Voz da Borborema e aos 16 já seria
elogiado por Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, um dos maiores
intelectuais cristãos brasileiros, que surpreendeu nos artigos do jovem Félix
de Araújo três de suas inumeráveis qualidades: a sensibilidade da alma, a erudição
do intelecto e a excelência na expressão de seus sentimentos.
Sentimentos
esses que elevaram sua verve genial do jornalismo ao lirismo poético e do
lirismo poético a uma oratória brilhante, posta a serviço de sua militância
política que pontuava pelo combate à exploração do Homem pelo Homem, pela
retidão ideológica e pela probidade pública.
Assim
foi durante sua conturbada vida estudantil na capital, intercalada com o
emprego de jornalista da União e interrompida pela morte do pai e pelo
voluntariado na Segunda Guerra Mundial, onde foi lutar contra o nazifascismo.
Refere
Bruno Galdêncio, a quem seguimos neste pequeno escorço biográfico, que quando
voltou da Itália, Félix de Araújo se fixou em Campina Grande, incorporando-se à
vida cultural e política da cidade. Continuou produzindo a sua poesia, além de
crônicas e artigos de opinião em periódicos paraibanos, obra aqui tão
brilhantemente analisada pelo professor José Mário da Silva.
Alguns
anos depois, criaria o programa “A Voz dos Municípios” na Rádio Borborema e
durante alguns anos também manteria o programa “Carrossel da Vida”, com leitura
de crônica diária na Rádio Caturité. Esta atuação o tornou um personagem
popular na cidade, sendo verdadeiramente respeitável entre as classes
populares.
Na
política filiou-se ao PCB e como comunista disputou duas eleições: em 1946,
para deputado federal, e 1947, para deputado estadual, não chegando a
eleger-se. Seus pendores literários, associados à sua militância socialista o
levaram a instalar em Campina Grande a “Livraria do Povo”, a qual foi
incendiada, criminosamente, por adversários ideológicos, sectários de extrema
direita.
Em
janeiro de 1947 contraiu matrimônio com Maria do Socorro Douettes, com quem
teve dois filhos que lhe deram distinta descendência: Maria do Socorro Tamar
Araújo Celino e Félix Araújo Filho, a quem neste momento transmito as saudações
do prefeito Romero Rodrigues, extensivas a toda a família.
No
mesmo ano, Félix liderou a campanha de Elpídio de Almeida a prefeito de Campina
Grande, tornando-se secretário de Educação e Cultura de seu governo. Depois,
coordenou a campanha eleitoral de José Américo de Almeida a governador da
Paraíba em 1950.
Deixou
o PCB em 1948 e elegeu-se vereador mais votado de Campina Grande em 1951, pelo
Partido Libertador. Nesta Casa integrou as comissões de Justiça, de Legislação
e Redação e de Educação e Cultura. Na tribuna da Câmara denunciou veementemente
a corrupção que grassava impune no Município, o que levou ao rompimento com o
prefeito Plínio Lemos e com o governador José Américo de Almeida.
De
fato, em 1953 escreveu no Jornal de Campina um artigo intitulado “Eu Acuso”,
manifesto contra o governo de José Américo de Almeida e, no mesmo ano, num trágico
treze de julho, foi baleado, pelas costas, por um facínora, guarda-costas do
então prefeito de Campina Grande, Plínio Lemos, que acoitou o assassino em sua
própria residência.
Félix
Araújo faleceu aos 30 anos de idade em decorrência dos ferimentos, na Casa de
Saúde Dr. Francisco Brasileiro, deixando enlutada a cidade, cujo povo o
pranteou por décadas e hoje o homenageia com honradez.
Assim
foi Félix Araújo: franzino de corpo e gigante de alma, cuja curta, mas
prolífica vida deixou um legado de carisma que se perpetua entre nós como um
exemplo a ser seguido em virtude de seu espírito público, sua limpidez
ideológica, sua coragem, sua retidão e, sobretudo, a probidade essencial que o
levou ao sacrifício.
Muito
obrigado.