Leia o primeiro post sobre a história da UFCG aqui
Os cientistas naturais chamam de “salto quântico” um fenômeno que ocorre
quando uma partícula ganha energia: o movimento dos elétrons se acelera e eles
se afastam do núcleo, “pulando” de um nível atômico para outro. Esse conceito
que revolucionou a Física e cujas aplicações resultaram em invenções como o controle
remoto e o CD, serve de metáfora para processos em que um grande investimento
de energia humana provoca saltos evolutivos repentinos e irreversíveis em uma
instituição ou organização. Foi o que aconteceu com a UFPB no reitorado de Lynaldo
Cavalcanti (1976-1980).
Em quatro anos, o ex-diretor da Escola Politécnica de Campina Grande
transformou a universidade, colocando-a entre as maiores do Brasil, com sua
inédita estrutura multicampi.
Expandiu e interiorizou, fundando os campi de Bananeiras, Patos, Sousa e
Cajazeiras e criando 33 cursos de graduação, 18 de mestrado e dois de doutorado.
Até então, a pós-graduação da UFPB se resumia a três cursos de mestrado em
engenharia, todos funcionando, coincidentemente ou não, na própria POLI. É
desse período a federalização da Faculdade de Medicina de Campina Grande,
episódio saborosamente relatado pelo próprio Lynaldo na biografia escrita por
Ivan Rocha Neto:
“Consegui federalizar a faculdade de Medicina de
Campina Grande, como Ney Braga [então ministro da Educação], dizia – ‘com mão de gato’,
isto é, em lugar de uma lei do Congresso, a Universidade Federal criou o curso
de medicina, absorveu os professores da antiga faculdade, recebeu como doação o
patrimônio e os alunos foram transferidos para a Universidade Federal. Isso foi
uma verdadeira maluquice e um artifício muito trabalhoso”.
Outros tempos, outros costumes. Mas, para quem gostava de citar Lester
Korn –“a liderança visionária e não a capacidade administrativa será o modelo
mais valioso para o executivo de amanhã” – essa foi apenas mais uma manobra
genial do já mítico reitor, como foi a aquisição do IBM 1130 (leia aqui).
Com a instalação de mais de 20 núcleos interdisciplinares, como os ainda
ativos NUPPA, NDHIR e NEPREMAR, a universidade trilhava os caminhos da
excelência na pesquisa e extensão, sem deixar de lado as artes e a cultura, que
tiveram um grande fomento com a criação do NUDOC, a construção do Teatro Lima
Penante e a parceria com o governo do Estado para a formação da Orquestra
Sinfônica da Paraíba.
Naquele reitorado, a UFPB se cosmopolitizou em virtude de uma política
agressiva de convênios e intercâmbios. Para se ter uma idéia, no final da década
de 70, o Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) do Campus II contava com 102
professores estrangeiros, entre indianos, canadenses, franceses, alemães e
ingleses. Em plena ditadura militar, a universidade se politizava com a nomeação
de professores de alto nível, muitos deles de esquerda, alguns voltando do
exílio e outros saindo do ostracismo forçado pelo regime de exceção. A criação
da Associação dos Docentes (ADUF) é fruto deste processo.
Ao final de seu mandato, Lynaldo Cavalcanti pôde relatar ao CONSUNI que
o alunado evoluíra de 11.301 para 21.120 estudantes e que o número de
diplomados duplicara. Que de 963 professores em 1976, a UFPB passara a ter 2.635
em 1980, com um aumento exponencial de doutores e mestres. Que o corpo
técnico-administrativo crescera de 1.640 para 3.360 funcionários. Que o
orçamento da UFPB havia dobrado e seu patrimônio triplicado. Era o “gigantismo”
dos sete campi que faria a fama da UFPB, mas que também levaria ao seu
desmembramento em 2002. Mas essa é outra história.