quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Identidade e Qualidade de Vida nos Territórios da Cidadania na “Década Inclusiva” Brasileira

Disponibilizo em meu perfil no Academia.edu artigo apresentado no IX Congresso da Associação Latino Americana de Sociologia Rural (ALASRU), realizada na cidade do México, entre 06 e 10 de outubro. Transcrevo o resumo:

A primeira década do século XXI foi extremamente promissora para o Brasil, particularmente no que tange à redução das desigualdades sociais e à melhoria da qualidade de vida da população. Segundo o instituto oficial de estatística, depois de 30 anos de alta desigualdade inercial, o Índice Gini começa a cair em 2001, passando de 0,61 naquele ano para 0,527 em 2012. Pesquisadores têm definido esse período como “década inclusiva”, pois, de maneira geral, a renda de grupos tradicionalmente excluídos foi a que mais prosperou, em particular, negros, analfabetos, camponeses e nordestinos. Considerando que as políticas públicas de desenvolvimento rural empreendidas pelo governo federal a partir de 2003, especialmente o Plano Safra da Agricultura Familiar e o Programa Territórios da Cidadania, foram fundamentais para esse processo, este trabalho visa, em primeiro lugar, avaliar seus efeitos sobre a qualidade de vida da população do campo no Brasil, analisando os Índices de Qualidade de Vida (ICV) apurados em uma amostra de 37 Territórios da Cidadania localizados nas 5 regiões brasileiras, estimados mediante a visita de 27 equipes de entrevistadores a 10.106 domicílios rurais situados em 16 estados da Federação. Em segundo lugar, procura correlacionar, por meio de análise estatística, o ICV com indicadores de identidade territorial, também apurados na pesquisa nacional, de maneira a avaliar se a “força” da identidade camponesa tem algum poder explicativo no processo de evolução da qualidade de vida nos Territórios da Cidadania.

Leia o artigo completo aqui e a apresentação aqui

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O Brasil Neoliberal e o Brasil do PT

Em seu discurso de posse no primeiro mandato o presidente Lula disse: “se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida”. Com essa fórmula aparentemente pueril, bastante ironizada pela grande mídia e pelas elites políticas que ele acabara de derrotar nas eleições de 2002, iniciava-se um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social no Brasil que, em onze anos, retirou 36 milhões de brasileiros da pobreza absoluta, propiciou a ascensão de 42 milhões à classe média – que passou de 37% para 55% da população entre 2003 e 2012 – e elevou a renda per capita mediana das famílias brasileiras em 78%[1].

Este é um dos mais espetaculares movimentos de ascensão social e recuperação econômica já verificados na História, denominado com extrema propriedade por NERI e SOUZA (2012) como “década inclusiva”, pois, “de maneira geral, a renda de grupos tradicionalmente excluídos que tinham ficado para trás foi a que mais prosperou no período, em particular, negros, analfabetos, crianças, nordestinos e moradores do campo” (NERI e SOUZA, 2012: 8; 21). Assim, “após 30 anos de alta desigualdade inercial, o que colocou o Brasil no imaginário internacional como a terra da iniquidade, o Índice de Gini começa a cair no Brasil, passando de 0,61 em 2001 a 0,527 em 2012” (NERI e SOUZA, 2012, p. 4; NERI; VAZ; SOUZA, 2013, p. 10):


De fato, após a população experimentar o absoluto desastre do chamado “milagre econômico” da ditadura militar (1964-1985), que propiciou crescimento econômico, mas aprofundou a pobreza e a miséria no país e, em seguida à sua derrocada, os anos de hiperinflação que as agravaram ainda mais para, finalmente, após a estabilização monetária promovida pelo Plano Real no final do governo de Itamar Franco (1994), sentir os amargos resultados da “estratégia neoliberal”[2] do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), imperava um profundo desânimo na população nacional, imersa num quadro econômico crítico.
Ora, em 2002 o Produto Interno Bruto do Brasil era de US$ 504,359 bilhões[3] (BRASIL, 2013, p. 16), o que colocava a economia nacional em 13º lugar em termos de grandeza no Mundo, quando esta ocupava o 9º lugar no início do primeiro mandato de FHC, segundo dados do Banco Mundial. A taxa de investimentos sobre o PIB chegou ao piso histórico de 15,3% em 2003 (BRASIL, 2013b, p. 24), o PIB per capita montava em apenas US$ 2.800[4] (BRASIL, 2013, p. 16) e, segundo o IBGE, a taxa de desemprego batia os 12,9% no final do governo de Fernando Henrique Cardoso. A inflação fechou o ano de 2002 num patamar de 12,5% (IPCA), bem longe do centro da meta estabelecida pelo governo e em aceleração, enquanto a dívida externa atingira US$ 165 bilhões e as reservas internacionais do país somavam, tão somente, US$ 37,8 bilhões (BRASIL, 2014) – dos quais US$ 20,8 bilhões correspondiam a um empréstimo feito junto ao FMI – enquanto a dívida líquida do setor público havia subido para 51,3% do PIB[5].

Na Era Lula-Dilma Rousseff, os números mudaram significativamente: o PIB cresceu 46%, atingindo a cifra de US$ 4,838 trilhões em 2013 (BRASIL, 2013, p. 16), o que guindaria a economia nacional ao 7º lugar em grandeza no Mundo, de acordo com o Banco Mundial. O PIB per capita aumentou 29% no mesmo período, chegando a US$ 24.065 (BRASIL, 2013, p. 16). A taxa de investimentos sobre o PIB atingiu 18,4% (BRASIL, 2013b, p. 24), aumento de 20% em uma década, ao passo que o investimento do setor público em Formação Bruta do Capital Fixo passou de 2,6% do PIB em 2003 para 4,4% do PIB em 2012 (BRASIL, 2013b, p. 7-8), aumento de 69%.

Segundo o IBGE, a inflação fechou o ano de 2013 em 4,7% e, de acordo com o Ministério da Fazenda, o Brasil zerou sua dívida externa em 2007, apresentou, no início de 2014, uma dívida externa líquida de -US$ 92,7 bilhões e as reservas internacionais atingiram o montante de US$ 376,5 bilhões em 2013, dez vezes mais do que em 2002:


Em relação à dívida pública, esta caiu de 60,4% do PIB em 2002 para 35,7% em 2013 (BRASIL, 2013b), redução de 41%:



Em virtude das mais de 20 milhões de novas vagas de emprego abertas em uma década (BRASIL, 2014 e 2014b, p. 16), o país atingiria sua menor taxa histórica de desemprego em dezembro de 2013 (4,3%), cifra que, comparada com a taxa de 12,9% verificada no final do governo de Fernando Henrique Cardoso (2002), evidencia uma redução absoluta de 8,6 pontos percentuais, isto é, uma queda de 67% do desemprego no período dos governos trabalhistas.


Refutando as teses neoliberais quanto ao papel do Estado na economia e numa clara opção estratégica de crescimento econômico sustentável por meio da ampliação do mercado interno, então por décadas represado, os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff empreenderam uma série de políticas públicas inovadoras, destacando-se, por um lado, as políticas de inclusão social e distribuição de renda por meio de programas como o Fome Zero e o Bolsa Família e, por outro, as políticas de estímulo à geração de empregos e de aumento real do salário mínimo, que teve um ganho real de 72,31% entre 2002 e 2014 (DIEESE, 2013, p. 4), passando a corresponder a 2,12 cestas básicas em janeiro de 2014, contra 1,42 no último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso (DIEESE, 2013, p. 10). Segundo a OIT,


Durante os oito anos de governo do Presidente Lula da Silva (2003-2010), o salário mínimo cresceu, em média, 5,8% ao ano, com um aumento real acumulado de quase 60%. Durante este mesmo período, o PIB aumentou 4% ao ano em média, enquanto o PIB per capita evoluiu a uma taxa de 2,3%. O resultado foi um aumento do salário mínimo acima do crescimento real do PIB, provocando grandes efeitos redistributivos e contribuindo para a redução dos níveis de pobreza. Este crescimento é quase o dobro que o observado no período de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002): aumento real no salário mínimo de 3,3% ao ano, enquanto o PIB cresceu 2,3% e o PIB per capita 0,8%. (OIT, 2011, p. 79, tradução nossa).


Em virtude disso e de outros avanços, a renda familiar per capita elevou-se de R$ 679,90 em 2002 para R$ 961,60 em 2013 (BRASIL, 2014), aumento de 41%, e, segundo a ONU/PNUD, a proporção de pobres despencou 86%, saindo de 25,5% em 2000 para 3,5% em 2010. Segundo a ONU,

No Brasil, os esforços iniciados em 2003 resultaram em processos participativos e de articulação institucional  que produziram políticas que efetivamente reduziram a pobreza e a fome. (...)  O Brasil já conseguiu atingir as duas metas propostas pela ONU para 2015: a do Milênio, que inclui diminuir pela metade a quantidade de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia e que passam fome; e a da Conferência Mundial de Alimentação, de diminuir pela metade o número de pessoas desnutridas. (ONU/FAO, 2014, p. 20-25).




Em suma, os números oficiais e de organismos internacionais demonstram limpidamente as consequências para a população dos dois projetos hoje em disputa pela Presidência da República no Brasil:





[1] Discurso da presidenta Dilma Rousseff na abertura do VII Encontro Empresarial Brasil-União Europeia - Bruxelas/Bélgica em 24/02/2014.
[2] Segundo CARINHATO (2008, p. 40), “Esta estratégia tinha o seguinte receituário: combate à inflação, através da dolarização da economia e valorização das moedas nacionais, associado a uma ênfase na necessidade de ajuste fiscal. Junto dessas orientações, ainda podemos citar a reforma do Estado – mormente privatizações e reforma administrativa – desregulamentação dos mercados e liberalização comercial e financeira”.
[3] US$ 3,323 trilhões a preços de 2013, segundo o Banco Central.
[4] US$ 18.641 a preços de 2013, segundo o Banco Central.
[5] BARBOSA, Nelson; SOUZA, José Antonio Pereira de. “A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda”. In SADER, Emir; GARCIA, Marco Aurélio, Brasil entre o passado e o futuro. São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo; Boitempo, 2010, p. 59.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Voltando ao Blog


Uma semana após o último post publicado neste blog, experimentei a maior tragédia de minha vida, a perda violenta do meu querido filho Mateus. Chorando a morte, procurei tocar a vida cumprindo minhas obrigações na família, no trabalho e na vida acadêmica. 

Mas saí de cena nas redes sociais e neste blog. Francamente, não tinha a menor disposição de expor desbragadamente o meu individualismo ao Mundo, pois é isso que o facebook, o instagram e o twitter, no fundo, requerem. Passada a missa de sétimo dia e recebidas as condolências por estes meios, passei um bom tempo sem sequer abrir as minhas contas. Voltei, depois, como usuário passivo e, ainda agora, como um usuário ativo extremamente comedido. Não por opção, mas por indisposição.

Quanto a este blog, que apenas hoje retomo, havia, a impedir-me de usá-lo, uma outra sensação ainda mais forte de aversão. Em todo tipo de produção criativa, seja artística ou intelectual, há uma boa dose de vaidade. Isso é inerente à atividade. Não pela produção em si, mas por sua exposição. E talvez seja este sentimento que mais declinou em minha psique com a perda de Mateus. Não há como envaidecer-se de si próprio com um filho morto. Dá vergonha, dá asco, dá vazio.

Hoje volto a publicar neste blog porque hoje acordei menos enauseado.